Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

30 junho 2015

20 junho 2015

A dor desabituação e o novo Samurai

Este texto é dirigido para todo leitor que se encontre vivenciando os primeiros momentos de birra da adolescência emocional no caminho do autoconhecimento; semelhante aquela birra de quando não queremos mais ficar morando na casa dos pais, mas ainda não temos a autonomia financeira, muito menos psicológica para assumir a vida por si mesmo e que se mostra um momento bastante confuso e delicado.
Para iniciar nossa meditação, cremos ser oportuno debruçarmos sobre a questão: Será que escolhemos, por nós mesmos, nos encontrarmos neste momento de “ordenação”? Será que escolhemos passar por essas dificuldades emocionais, que fizeram com que começássemos a buscar por significativas respostas para o porquê disso em que nos encontramos? Respostas que nos esclareçam o porquê dessa crise se apresentar apenas para nós e — ao menos pelo que parece — não fazer parte do momento daqueles que nos cercam? Será que não tem algo ai, nos apontando que existe um motivo real para esse tipo de “chamado”?
Com certeza, não há nada mais desesperador do que se deparar com perguntas como estas e, de modo algum encontrar respostas para as mesmas. Um dos grandes desesperos iniciais que se apresenta no caminho do autoconhecimento, está justamente nessa dificuldade de encontrar por esclarecedores ecos, os quais nos apontem um solo firme, no qual possamos sentir no mais fundo de nós, que de modo algum estamos perdendo a sanidade. Geralmente, o alívio para essas dúvidas iniciais acabam sendo amenizadas, quando nos deparamos com o ambiente fértil de alguma escola iniciática. É nelas que temos o sentimento de alívio caracterizado pela certeza de que não estamos loucos, de que não estamos sós, de que não somos os únicos que se deparam com desconhecidos ambientes de total escuridão, onde não raro, nos deparamos com emoções e sentimentos distorcidos pelo tédio, pela insatisfação, mesmice, solidão, revolta causada pelo observador ácido-melancólico e a dor do medo do que acaba sendo visto. Encontrar por uma escola iniciática, onde nos deparamos com uma escuta atenta, amorosa e que valide nossos sentimentos sem qualquer sombra de julgamento ou incentivo a conformação, é que nos proporciona aquele apoio tão necessário para a manifestação dos primeiros passos em nosso processo de ordenação.
Esse momento inicial traz consigo sentimentos dolorosos, repletos de confusão e instabilidade emocional, semelhantes ao processo de retirada de algum determinado padrão de comportamento obsessivo-compulsivo, como o álcool e as drogas. Na realidade, o que se apresenta nestes momentos, é também um processo de retirada de uma forma de droga: a droga do ajustamento parental-social, a qual, igualmente a outras drogas, traz consigo os mesmos sintomas torturantes, sendo que para as drogas socialmente conhecidas, muitos já conhecem e validam os sintomas de tal crise, sendo mais difícil, quando se trata do caso da pensamentose. Estamos nos abstendo de uma poderosa droga social, cujo sistema de retroalimentação do tráfico, mantém seus pontos bem protegidos e abastecidos, em todos os locais por onde mantemos contato. A droga social, a droga cultural, a droga da tradição está ai para quem quiser, sendo a droga de mais fácil e barato acesso. O acesso é quase que de graça, porém, não apresenta nenhuma graça e, como nas demais drogas, o que nos apresenta é tão somente um pesado colar de desgraças, o qual nos faz andar de modo cabisbaixo pelos ilusórios caminhos da aceitabilidade social.
Como nas demais drogas, a pensamentose apresenta sintomas mentais, emocionais e físicos, entre eles o tédio, a raiva, o medo, a angústia, os dolorosos sintomas psicossomáticos... Os nervos travados, a lombalgia, os ombros tensos, os problemas estomacais, as alergias na pele, a queda dos cabelos, a pressão na cabeça, a enxaqueca, a solidão... Não a solidão física — se bem que geralmente acaba ocorrendo —, mas a solidão psíquica, de não ter pessoas que entendem e comunguem de tal estado de espírito, os quais sentimos no mais fundo de nossas vísceras sem ter a menor compreensão dos mesmos, o que torna ainda mais difícil a compreensão por parte das demais pessoas.
Outro ponto que acaba nos afetando demais nessa fase inicial de ordenação do processo de autoconhecimento, está na manifestação de uma profunda sensibilidade energética, com sua alergia psíquica e a resultante emotiva ressaca psicossomática. Para alguns, talvez, essa afirmação acabe soando com ares de misticismo, caso ainda não tenham com elas se deparado, uma vez que a mente lógica cartesiana só acredita em coisas que lhe sejam palpáveis; não acredita que somos um campo de energia sutil. Pegamos de modo muito fácil — e quase sempre de maneira inconsciente —, a carga energética, tanto dos ambientes como das pessoas que neles se encontram. Então, se não estamos atentos, é natural nos “embolarmos” nessa pesada e desestabilizadora energia, a qual clama pela retroalimentação de instintos há muito degenerados, e que depois de indevidamente nutridos, não sabemos o que fazer com seus resultados. Aqui também acabamos sofrendo outro tipo de conflito, proveniente da influência daqueles que nos são psicologicamente significativos e que, por desconhecerem por completo a natureza daquilo que nos aflige, de modo algum aceitam a presente e emergente necessidade de retiro, isolamento e solidão, a qual nos vemos momentaneamente acometidos.  Por mais que tentemos explicar, nossas palavras soam como um idioma totalmente desconhecido para estes e, não raro, tudo o que dizemos — como na famosa Lei de Miranda, tão citada nos filmes hollywoodianos —, em seu devido tempo, acabam sempre sendo usados contra nós, o que faz com que na maior parte das vezes, devido a nossa imaturidade, acabemos mergulhados no fétido pântano da raiva ilusoriamente justificada ou da autopiedade.
Outra questão recorrente no início do processo é muito bem apresentada numa cena do filme “O Último Samurai”, onde o personagem principal — Capitão Nathan Algren — interpretado pelo ator Tom Cruise, ao sair numa manhã chuvosa para brincar com espadas junto com um menino da aldeia, acaba sendo interrompido pelo personagem Ujio, interpretado por Hiroyuki Sanada, o qual tenta por várias vezes retirar-lhe a espada de madeira de suas mãos, tendo que lhe dar uma enorme surra, até deixa-lo totalmente prostrado ao chão. Em sua birra, o Capitão Nathan Algren, por várias vezes não se dá por rendido, tentando bravamente fazer valer sua obstinada vontade. Essa cena se dá durante uma forte chuva, o que é uma simbologia do processo inicial de limpeza de nossos instintos e da ordenação interior de nossa vontade. Essa cena mostra de modo muito claro os dolorosos resultados que surgem da nossa recusa de abrir mão de nossa obstinada vontade, a recusa de defender os nossos desejos e condicionamentos, sem a qual não se faz possível o estado de total rendição, aceitação e prontificação para que tenha início “um novo treinamento transcultural”, o qual nos possibilita a revelação de nosso livre espírito “Samurai”, ou seja, como literalmente aponta o significado desta palavra, “aquele que serve”. Em outras palavras, sair do estado umbigóide de ser, característico da excessiva exposição à antiga e adoentada cartilha cultural, para o sagrado exercício de Cuidar do Ser. É aqui que a vida reencontra o seu pleno significado. Antes disso, o que fica é muita dúvida, muitos questionamentos, muita ânsia por respostas, as quais nos remetem a um terreno carregado de medo e ansiedade. Como no filme, a comunicação é bastante difícil por causa da incompreensão do novo idioma, bem como das práticas culturais. Não raro somos tomados por impulsos suicidas. Caímos na dúvida quanto a funcionalidade dos ensinamentos. Queremos provas da observação do que se apresenta, realmente nos possibilite a liberdade. Como a mente é viciada em colecionar certezas emprestadas, saímos em busca da certeza de que aqueles que nos apresentam o novo idioma do espírito tenham de fato alcançado o livre estado de “Samurai”. Temos o nosso sono atormentado pela desesperadora culpa de nossas ações passadas. Somos bombardeados pelos velhos impulsos de narcotização de nossos pensamentos e emoções. Vemo-nos solitários e trancafiados numa terra desconhecida, em meio de desconhecidos. Diante da total impotência dos que nos cercam, vivemos a noite escura da alma, a qual parece jamais chegar a seu fim. Nos ressentimos por não ser “normal” como as demais pessoas; invejamos a mediocridade de suas vidas, mesmo tendo dela consciência. Praguejamos contra o chamado e rotulamos de modo pejorativo aqueles que tentam nos ensinar “a luta livre do esforço mental”. Não percebemos que o lamento é a lama da mente, que nos faz patinar e nos impede de sair do lugar. O desespero aumenta quando percebemos que não temos outra opção a não ser dar continuidade num processo totalmente desconhecido, uma vez que já conhecemos os ambientes das estradas anteriormente percorridas. A dúvida, que significa estar preso entre duas vidas, grita de modo tão forte, que não conseguimos uma escuta nem de nosso coração, nem daqueles que tentam nos apoiar.
Neste momento de nosso processo, o compartilhar com os demais que já se encontram há mais tempo na jornada do autoconhecimento se faz profundamente funcional. Compartilhar de forma franca e aberta a qualidade dos pensamentos, emoções e sentimentos, fazem como que uma espécie de “fio terra” que ajuda a estabilizar a nossa energia vital. Ver confirmado em seus olhos e palavras a natureza do processo, perceber neles um estado de ser muito mais equilibrado que o nosso é que nos dá a necessária confiança para seguir viagem. Afinal, não é nada fácil arrancar as algemas do sistema de ilusão no qual nos vimos excessivamente expostos... Mostra-se extremamente doloroso abrir mão dos nossos antigos valores de vitrine, sobre os quais tivemos a nossa embotada formação... A mente tenta falar mais alto do que a ainda fraca voz da intuição que nos pede para seguir rumo ao desconhecido. A mente quer que continuemos na larga trilha do estabelecido, na trilha do convencionado. Como ainda estamos muito amarrados e comprometidos com pessoas e instituições a mente se apavora e abomina a ideia da possibilidade de investir na estreita trilha do desconhecido.
Então, aqui é um momento em que somos testados pra ver se realmente estamos prontos para fazer o devido trabalho que nos possibilite receber uma “espada de cura”, espada essa que tem sua lâmina afiada pela compreensão e transcendência dos erros do nosso passado e pela maestria de uma nova linguagem manifesta pela disposição de servir ao Senhor Único, mesmo que tenhamos que morrer em nome disso. 

Outsider

Ansiedade

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Observação

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Conceitos e conclusões

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Memória

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Quando as perguntas não calam

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Bondade ácida

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Medo

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Grande ilusão

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Busca de reconhecimento

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Dia de Cinzas

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Que caminho seguir?

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Onde está o problema?

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19 junho 2015

Você tem fome de quê?

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A maior das catástrofes

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Ordenação

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Fonte de conflito

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Mergulho no silêncio

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O sopro e a flauta

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O autoconhecimento é um processo de ordenação

Creio que o leitor já deve ter percebido, por várias vezes, a dificuldade que temos em abrir mão do ranço da autoridade, ainda mais num momento como este em que, a cada momento, o que mais se observa é um total descontrole quanto a corrupção gerada pelo abuso de autoridade. Ao invés das coisas melhorarem, parecem piorar cada vez mais; a inconsciência parece estar dominando todas as áreas sem exceção.  Independente disso, a fim de nos precavermos contra os ataques da observação ácida rancorosa, há que se manter consciente conforme nos orienta um antigo preceito espiritual retirado das escolas dos Anônimos: “O problema nunca está nas circunstâncias; o problema está em nós”. É o nosso modo de ver e reagir ao que se apresenta no mundo, que gera os nossos problemas e conflitos. O problema não está na tela do mundo, mas sim na paleta de cores do nosso olhar.
A jornada do autoconhecimento é um processo de ordenação. Talvez o leitor já tenha visto, seja por meio dos vários mecanismos da imprensa, ou até mesmo presencialmente, uma cerimônia de ordenação religiosa. Geralmente, aquele que está recebendo a ordenação, tem que se prostrar, tem que se jogar ao chão, ficar ali por alguns minutos totalmente imóvel e em silêncio, para depois receber um “toque” de um superior, seguido de uma nova roupagem, a qual simboliza a sua entrada em outra dimensão vivencial. No autoconhecimento, o processo de ordenação não se faz de modo diferente.
O autoconhecimento é um processo que ocorre em várias etapas, nas quais vai sendo restaurada a necessária ordem para o alcance da sustentação do estado de ser, expresso pela presença de nossa real natureza. A Consciência que somos, apresenta-nos conforme vamos nos prontificando, a consciência da desordem interna e externa, originária da exposição excessiva há vários anos de inconsciência de si mesmo. Nesses anos de inconsciência, por meio de desequilibradas reações inconsequentes, causamos uma série de danos — de várias ordens — tanto a nós mesmos como para com os demais com quem mantínhamos contato. É aqui que a Consciência se apresenta e, com sua voz mansa e suave, nos traz seu alerta: “Pare tudo, pois é preciso descer!... É preciso descer e reparar o tamanho do estrago que se faz presente.
Não há nada de complicado no processo do autoconhecimento; nele, tudo se mostra muito simples. Trata-se tão somente de um processo de ordenação, ou seja, um processo de colocar ordem em tudo aquilo que se apresenta em desordem. O que torna tudo complicado são as vozes do medo, que são projetadas de forma violenta em nossa agitada tela mental. A ordenação é o resultado decorrente desses momentos de ócio, onde temos a possibilidade de observar tudo que se apresenta em nossos corpos mental, emocional e físico, sem que ocorra nenhum tipo de escolha, nenhum tipo de condicionamento de resultados. São nos momentos de contemplativo ócio silencioso que nos prontificamos ao estado receptivo, o qual facilita o separar do joio e do trigo, ou seja, o separar das vozes da mente e a voz da Consciência, pela qual nosso natural estado de ordem se faz restaurado.
No inicio do processo de autoconhecimento, o momento se mostra muito difícil, muito confuso, muito complicado, justamente por causa da enorme desordem em que se apresenta nossa existência (o que não poderia se mostrar de forma diferente, uma vez que foram anos e anos de total inconsciência de si mesmo). Não raro, todos os nossos instintos, todas as áreas de nossa vida carecem de uma enorme faxina. Tudo que olhamos parece ampliar nosso deplorável estado de agitação. A mente adquirida, com seus monólogos, memórias e projeções não dá sequer um instante de trégua e, diante nossa total imaturidade neste processo de ordenação, quase sempre acabamos nos identificando com tal conteúdo mental, responsável por tanta aflição... Culpa, remorso, ressentimento, medos infindáveis, a crônica dor da inveja, a angústia do vir-a-ser... Tudo isso junto e embolado, gerando aquela “bola” na boca do peito, tão difícil de ser engolida. Sabemos bem o que significam esses dolorosos instantes, os quais uma vez presentes, parecem nunca chegar ao seu fim. A agitação é tanta que faz parecer impossível o simples ato de nos mantermos sentados por alguns minutos. O corpo dá chilique. A ausência de uma base emocional nos joga em tal estado de ansiedade, que fica muito difícil se concentrar até mesmo no mais simples dos textos de “encomendados” livros comerciais de auto-ajuda.
Então, podemos dizer que o processo de autoconhecimento é uma espécie de Bê-á-bá psíquico, um Bê-á-bá emocional. Nesse momento iniciático, não há como acreditar que o processo de autoconhecimento seja algo profundamente simples, expresso pela ação de se sentar, observar os pensamentos e emoções, absorver o que é real e absolver-se do falso; inspirar, acalmar e “despirar”; ficar pronto, receptivo e quieto. Por isso que se faz necessário o processo de ordenação, o qual coloca todos os instintos em seus devidos lugares, para que cumpram sua ordem natural, para que então se manifeste o sossego mental. É através do processo de ordenação que nos libertamos dos insistentes ataques da culpa, do remorso, da ansiedade e de todas as formas de medo, dos quais quase sempre procuramos fugir por meio de alguma forma de compulsão, que no fim das contas, apenas agregam mais conflito e confusão. Sem o processo de ordenação, não há como se apresentar uma mente serena, sossegada e livre de conflitos, dotada da capacidade de se mostrar receptiva para Algo que esteja muito além do manifesto. Caso contrário, o que temos é a continuidade do processo da mente adquirida, dessa mente de segunda mão.
Em outras palavras, a ordenação é um processo de formação de uma necessária base emocional, reparar bem em todas as situações, vivências e manifestações, não só as do nosso passado, mas igualmente aquelas que vão ocorrendo de momento a momento, e tendo uma compreensão capaz de fazer com que não nos identifiquemos com aqueles impulsos reativos, inconscientes e inconsequentes que ditavam nosso conflituoso e inseguro dia a dia.
Outra situação que se mostra bastante difícil nessas etapas iniciais do processo de ordenação, é aquela em que já não temos um foco específico de conflito, digamos assim, em que se apresenta um período de “deserto de conflito”... É aquele momento em que o conflito inicial que nos atirou no caminho do autoconhecimento, já não se faz mais presente, no entanto, percebemos que não há a manifestação de uma mente serena, sossegada... O que se apresenta é um desconhecido sentimento de vazio... Então a mente se apodera desse sentimento de vazio e faz dele, o novo objeto de nosso conflito. O leitor passou por isso?... Continuemos.
Aqui já há uma consciência de que não faz sentido tentar fugir desse estado de vazio que se apresenta; que também é necessário sentar com o mesmo. Ocorre uma ordenação inclusive com a questão de como observar esse vazio; há um processo de colocar ordem para que se tenha a capacidade de se sentar com o vazio, de modo que o mesmo deixe de ser algo que nos conflite, que deixe de criar a conhecida ansiedade por um vir-a-ser que nos liberte do vazio. Esses momentos iniciais com o vazio não narcotizado se mostram bastante difíceis, mas sem que tenhamos consciência, são nesses momentos que estão ocorrendo o implante da base emocional para fazer frente a uma nova maneira de observar o conflito, pois, sem ele, tona-se impossível a manifestação de algo totalmente novo e criativo. É aqui que vamos lançando as bases para que, quando mais maduros, possamos ficar em estado de quietude, de contemplação do sopro que nos habita — e no qual somos —, do ritmo de nossa respiração e dos batimentos cardíacos, ou seja, num incondicionado estado de presença. Sem a ordenação dos pensamentos, dos desejos, das emoções, das reações, esse estado de presença se mostra impossível. Como nos diz um antigo pensamento da sabedoria oriental, “É no vazio fértil de um bambu que a flauta dá sua harmoniosa e criativa melodia”. Em outras palavras, o estado de ordenação é aquele que retira os nós internos do bambu que somos, para que a Consciência Pura possa, através do nosso sopro, tornar manifesta uma criativa mensagem que produz harmonia, não só para nós, mas o mundo que nos rodeia.
Mas por mais que avancemos em nosso processo de autoconhecimento, a mente se mostra mais sagaz... Ela faz uso desses momentos iniciais de, com boa vontade, fazer frente ao vazio que se apresenta, e começa a nos bombardear com ideias de que os dias estão se passando e que nada está ocorrendo e que se continuarmos nesse ritmo, acabaremos perdendo a vida, deixando de vivê-la com propriedade, como parecem estar vivendo todos aqueles que nos rodeiam. Como nos demais momentos anteriores, a observação sem escolha de tudo que ocorre em nossa mente e emoções, bem como em nosso corpo, mostra-se um poder superior contra as antigas identificações inconscientes e inconsequentes que nos causavam as dolorosas “saídas do Ser”. Percebemos com a observação sem escolhas, que é a mente adquirida quem clama por uma ação qualquer, pois, sem a identificação com uma ação externa, a ação permanecerá na dimensão interna, e com isso, não há como não ocorrer a revelação da imperiosa influência dos ilusórios movimentos da mente condicionada.
Toda natureza se permite momentos de quietude e contemplação... Observe um animal... Na maior parte do tempo ele se encontra em estado de repouso. Portanto, é só a mente que possui essa necessidade de estar em constante ação acelerada. Mas, se somos sérios e dotados da necessária paixão pelo autoconhecimento, e em resultado disso, desenvolvemos a capacidade de observação de tudo aquilo que nos vai sendo revelado de momento a momento, essa ânsia pela ação externa, deixa de nos incomodar. Os momentos de vazio e de ócio passam a ser recebidos como uma necessidade vital em nosso processo de retomada da consciência da presença que somos. A identificação com as cobranças mentais — tanto nossas como dos demais — deixam de ser levadas a sério. Caem por terra as cobranças mentais que exigem por uma atividade no agora que nos prometa por segurança psicológica num futuro imaginário. Uma até então desconhecida capacidade de confiar na Grande Vida começa a se instalar, trazendo consigo o antídoto contra os antigos medos e ansiedades.
Tudo isso faz parte desse processo de ordenação resultante do exercício de autoconhecimento, o qual vai colocando em ordem a nossa percepção de mundo, e nos apresentando sua desconhecida e maravilhosa paleta cores. Deixa de fazer sentido a necessidade de buscar por validação para nossa maneira de estar no mundo, bem como a necessidade de explicar essa percepção, que para os demais, se mostra totalmente diferente e até mesmo irracional. E é essa nova visão de mundo que vai nos permitindo dele desfrutar de modo livre, leve e solto e, na medida que nos for solicitado, ter a capacidade de compartilhar a maneira como tal estado de ser, em nós se fez manifesto. Essa capacidade de maestria diante das influências da vida, de modo não reacional é que nos traz um novo sentido de existir e de compartilhar dessa nova qualidade do estado de presença, que em última análise sempre esteve aqui, encoberta por uma grossa e tão pesada rede de condicionamentos transgeracionais.

Outsider

Sobre as formas de olhar

Outsider

18 junho 2015

Toda crise é um conflito de desejos opostos

Não raro, aquele que se depara com a confusão inicial proveniente do ingresso no caminho do autoconhecimento, se vê constantemente bombardeado por pensamentos e sentimentos de que tudo o que ocorre com ele, mostra-se totalmente diferente dos demais, quando na realidade, isso é só mais uma das ilusões da mente, uma manifestação de seu antigo e inibidor vício de comparação.
Quando nos vemos tomados pela crise iniciática, a qual vira nosso mundo por completo de ponta cabeça, inumeráveis são os sintomas torturantes a que somos forçosamente acometidos. Os sintomas são quase sempre os mesmos, variando tão somente, o grau de sua intensidade.
É interessante perceber aqui que a palavra “crise” — segundo o Dicionário Aurélio —, significa uma manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio, uma fase difícil, grave, na evolução das coisas, dos fatos e das ideias, o que nos remete também à palavra “crisálida”, que significa um estado intermediário por que passam os lepidópteros para se transformarem de lagarta em borboleta. Em outras palavras, a crisálida é um período de manifestação de algo em nós que já se encontrava em estado latente. Em nossas palavras, é o período em que nos encontrávamos na linha da horizontalidade, vivendo feito lagarta, comendo tudo que aparecia pela nossa frente: todas as crenças, preconceitos, imagens...  comendo tudo que nos ofereciam, sem o menor sinal de questionamento e, de repente, sem saber o porque, estamos dentro dessa crise com sua crisálida. A crisálida é aquele período em que entramos num processo de isolamento social, em que nos fechamos em nós mesmos dentro de nosso quarto e começamos a digerir, em meio de profundas e significativas dores de parto, as coisas que começam a surgir em nossos corpos mental, emocional e físico (além do corpo sutil), coisas essas que nos assustam porque, muito do que vai surgindo se mostra como verdade. Não sabemos de onde surgem essas vozes que queremos silenciar a todo custo, as quais nos trazem à consciência a realidade de situações que se mostram dolorosamente difíceis de serem engolidas e assimiladas. Nesse solitário e doloroso período de crisálida, não temos a consciência de que a fala mansa carregada de duras, porém libertárias verdades, são na realidade as vozes da Consciência Única que somos. Como não conhecemos essa Consciência, ficamos perdidos dentro das vozes contraditórias que se apresentam na mente. A Consciência que somos se manifesta sempre com uma fala mansa, suave e integrativa, enquanto que a voz da mente adquirida, se mostra profundamente berrante e separatista. Apesar da fala da Consciência se manifestar de modo suave, traz consigo uma propriedade de verdade que se apresenta de modo profundamente assustador para a mente adquirida, que ainda por ela iludidos, acreditamos que somos.
Em última análise, a crise nada mais é do que o medo de assumir o padrão, a mania, a tendência comportamental que desenvolvemos de modo inconsciente e inconsequente durante vários anos de nossa existência sem vida. Na crise, a Consciência vem e nos fala: “Você é isso”... E de imediato a mente se rebela e não querendo aceitar, grita para a Consciência: “Não, eu não sou isso!”... E contínua a batalha com o anjo caído... “Sim, você é isso, perceba as evidências que amorosamente lhe trago”... “Não, eu não sou nada disso!”... E aí entramos numa espiral de vozes de negação, de imagens, memórias e projeções, os quais de forma muito rápida, sugam nossa estabilizante energia vital em meio de um conflito de desejos opostos, manifesto entre o que emerge da Luz da Consciência. O que emerge para que seja observado, aceito, compreendido é para que se tenha a libertária transcendência; mas o pavoroso e paralisante medo gerado pela mente adquirida, manifesto na possibilidade de ter que assumir aquilo que a Consciência nos apresenta como sendo real, a ser carregado como um fardo para o resto da vida; e que se tivermos que assumir isso que se apresenta, teremos que ter riscada a imagem pela qual tanto trabalhamos em todos os nossos relacionamentos, durante logos anos de nossa vida. A mente adquirida nos apresenta projeções de ostracismo, na qual nos vemos totalmente sós, desamparados e mais uma vez expostos à dor da conhecida vergonha tóxica, a qual em muito comprometeu nossa sensibilidade criativa e nosso poder de expressão, tendo como resultado um modo de estar na vida de relação onde desconhecemos por completo a realidade da genuína Felicidade, Liberdade e Compaixão Integrativa. Nesse estado de nossa evolução, não conseguimos perceber que o “fardo da Consciência é leve e suave” e que o mesmo é o único que “torna nova todas as coisas”.
Nesse período, onde buscamos a todo o momento por possibilidades de desabafo, não raro, em meio de nosso atordoante vitimismo, afirmamos para nós mesmos e para os demais, não saber ao certo os motivos de nosso sofrimento. Para cada um com quem desabafamos nosso conflituoso enredo, o mesmo sempre é apresentado com meias verdades e com grandes doses de ilusão. Afirmamos não saber o porquê de nosso sofrimento, quando na verdade, sabemos no mais íntimo de nós, que na realidade, estamos mentindo. Todos nós sabemos quais são as vozes que alimentam o conflito, o qual é o resultado da Consciência nos apresentando um padrão de dependência psicológica comportamental — onde atrás dele se escondem outros tantos os quais, em seu devido tempo, teremos acesso no transcorrer do caminho do autoconhecimento — em contrapartida a recusa da mente adquirida em assumir a realidade que nos é apresentada pela Consciência. A mente adquirida quer dar continuidade em seus segredos e mentiras, em seu “lado B”, o lado que só o seu banheiro, seu quarto e seu travesseiro conhecem; uma vez que a mente adquirida vive uma vida de fachada, a qual tenta a todo custo manter hermeticamente fechada, tanto para si mesma como para os demais. Só que chega um momento em que a Consciência entre em ação e nos diz: “Não! Chega! Olha só: tem isto aqui para ser reparado... Tem essa compulsão... Tem essa debilidade para ser sanada... Não tem mais como fugir disso... Ou você olha pra isso, ou então, o resultado da continuidade disso te mata!”... Então, a mente se assusta porque, pela primeira vez lhe é apresentado com propriedade e de forma incontestável a realidade de sua debilidade comportamental, a qual lhe mantém num mundo de irrealidades, que se não for imediatamente detido pode acabar levando a um ato de loucura ou até mesmo na morte prematura. Por causa do medo de assumirmos a realidade da debilidade comportamental que a Consciência nos apresenta é que faz com que a mente crie e estabeleça esse conflito de opostos de não querer ser aquilo que lhe é apresentado e buscar por um vir-a-ser, conflito este que uma vez instalado, parece nunca ter fim.
Então, enquanto não ocorre a aceitação da realidade dos conteúdos apresentados pela Consciência, com o intuito de nos apresentar uma possibilidade de libertação; enquanto não ocorre essa rendição, essa aceitação do que é, que a Consciência vai nos apresentando... E o processo do autoconhecimento é sempre esse... A Consciência sempre nos apresentando aquilo que não faz parte de nossa real natureza, que faz parte somente dessa irreal personalidade, dessa mente adquirida, a qual se mostra como a enorme trave de tropeço para a manifestação da Realidade Única que somos. Então, enquanto não ocorre esse levantar dos braços, essa rendição, esse prostrar-se ao chão, não há a mínima possibilidade de sair do estreito casulo do conflito e ganhar asas de liberdade para a constatação de um mundo de infinita beleza e múltiplas possibilidades.
No entanto, quando ocorre a aceitação, a qual se apresenta tão somente pela rendição holística e não por meio de algum cálculo da sagacidade mental; quando realmente nos prostramos diante do sagrado espaço dessa fala mansa e suave da Consciência que somos, quando a mente de fato se rende, imediatamente emerge um estado de Bem-aventurança... Imediatamente a Paz se instala... Imediatamente entra — talvez pela primeira vez em nossa vida — um estado de Felicidade... De Alegria incausada... Só vivenciamos isso quando se dá o estado de prontificação resultante da total rendição, impotência e entrega incondicional por parte da mente aos cuidados da soberana e centrante vontade da Consciência que somos, da Realidade Única que anima a tudo que é. Em outras palavras, tal estado de maravilhamento e centramento só se torna possível quando a mente adquirida abre mão de suas sagazes justificativas reativas, as quais se tratam de uma desesperada tentativa de não deixar transparecer ao exterior, a realidade de sua estagnante debilidade. Por mais que a mente adquirida lute para que se manifeste o contrário, aqui, não mais ocorre a possibilidade de a Verdade não vir à tona, porque a Verdade precisa vir à tona, ela precisa sair, ela precisa alcançar novos ares... A Verdade não foi feita para ficar trancafiada no desarrumado guarda-roupa de nossa adoentada personalidade... Ela precisa sair e transitar livremente, porque ao permitir a manifestação da Verdade, libertamos também ao demais, quando eles entram em contato com a qualidade dessa Verdade. Então a mente, quando percebe que não tem mais como fugir, que não tem mais como postergar sua rendição, quando percebe que terá que “sair de dentro do guarda-roupa, de dentro do porta-máscaras”, nesse momento apresenta-se o terreno fecundo para a manifestação de um estado de Transmentalização, a qual nos brinda com uma extraordinária compreensão de mundo e de suas leis, de modo nunca antes imaginado como possível. Em muitos casos, diante de tal momento de Graça, nosso crônico, disfarçado e debilitante padrão comportamental é milagrosamente arrancado de nossa mente e de nossos instintos. Para outros menos afortunados, se faz necessário um longo e doloroso processo, a ser vivido de forma minuciosa e destemida, o qual é denominado pelos profissionais da área de Saúde Mental como sendo a “Síndrome de Abstinência Prolongada” a qual coloca em contra marcha, aquilo que um grande amigo nosso se refere como sendo o “SPA – Síndrome do Pensamento Acelerado”. Em todos os casos, seja de forma imediata ou paulatina, se apresenta um novo estado de ser e de se relacionar com o mundo, para o qual não encontramos outra palavra melhor para expressá-lo, do que o significado da palavra milagre.
Então, a crise é simplesmente isso: a recusa de olhar de forma incondicionada para a debilitante e estagnante realidade a que estamos acometidos. Se nos encontramos em crise, então, paremos e observemos, sem qualquer escolha de resultados, aquilo que não estamos querendo aceitar, compreender e transcender. Olhemos com os olhos bem abertos para aquilo que não estamos querendo aceitar, indo ainda um pouco mais longe e compreendendo as vozes do medo e suas exigências que acabam sustentando a continuidade do estado de crise, a qual impede a manifestação da revelação da verdadeira liberdade do espírito humano. Deixemos de uma vez por todas de alimentar o vício de contar histórias recheadas de vitimismo, tanto para nós mesmos como para os demais que se mostrem menos precavidos. Tomemos consciência do fato de que em nada adianta ficarmos contanto histórias, nos fazendo de pobres vítimas incapazes de perceber a natureza exata da fonte do mal-estar a que nos vemos acometidos, pois, na realidade, sabemos muito bem qual é a dependência que está nos sendo apresentada e que está impedindo a manifestação de um estado de ser dotado da livre expressão de nossa energia sutil, a qual vivida em sua integridade, nos apresenta Felicidade, Liberdade, Criatividade, Sensibilidade restaurada entre tantas maravilhas mais. É preciso de forma emergencial tomar consciência de que, enquanto não abrirmos nossos olhos para a Verdade, os mesmos permanecerão voltados tão somente para o contínuo processo de sustentação do falso, o qual é a natureza exata de todos os nossos padrões de comportamento dependentes e seus inevitáveis conflitos separatistas.
Outro fato importante de tomarmos consciência é a percepção de que a crise iniciática, para alguns de nós manifesta-se por uma dose excessiva de remorso e de auto-repulsa devido as ações e experiências do passado. Para outros, a crise iniciática se apresenta com uma expandida dose de vitimismo ácido rancoroso; estes não possuem a crônica dor do remorso e da auto-repulsa (que por vezes se mostra fatal); estes se veem como eternas vítimas do mundo. No entanto, quando nos aprofundamos no conteúdo dos materiais que vão surgindo em nosso caminho do autoconhecimento, quando nos debruçamos sobre os dizeres de homens e mulheres que tiveram restaurada a capacidade de ser amor, um doloroso processo de reversão começa a se instalar. Não raro, aqueles que se mostravam com uma dose excessiva de remorso e auto-repulsa, ao passarem os olhos em seu histórico psicológico, se deparam com a realidade de lares profundamente disfuncionais e, prontamente passam a alimentar o outro lado do conflito de opostos, manifesto pelo exercício do vitimismo ácido rancoroso. O mesmo acaba ocorrendo com o “outro lado da moeda”, fazendo com que o vitimista depare-se com a realidade de seu neurótico comportamento reativo, fazendo com que o mesmo, de forma também neurótica passe a buscar pelo prazer mórbido da auto-punição. Do “Olha o que fizeram comigo”, salta-se para o “Minha culpa, minha tão grande culpa”.
Infelizmente, esse período de reversão, que poderia ser apenas um breve rito de passagem, devido a sagacidade da mente, a qual se apodera de toda informação para poder da continuidade ao seu processo de retroalimentação, acaba se mostrando além de bastante longo e doloroso, repleto de recaídas ao original estado anterior, o que para muitos, não raro, se mostra como um diabólico mecanismo de auto-boicote, com o qual justificam a inconsciente e inconsequente ação de se distanciar de vez do caminho do autoconhecimento. No entanto, para aqueles que de forma prudente, momentaneamente fazem uso da experiência de outras pessoas que já atravessaram, com sucesso, os pedregosos primeiros passos dessa trilha do autoconhecimento, surge a percepção de que o caminho dos opostos deve ser deixado de lado, tendo como salutar opção, a sugestão que nos chega das sábias palavras de um grande mestre, Siddharta Gautama, o Buda, cuja essência está em sempre optarmos pelo caminho do meio: Se esticar demais a corda da cítara se rompe, se não a esticarmos suficientemente ela não produz música”. Quando insistimos em pender para um dos lados, quando de forma insana optamos por novamente mergulhar nas fétidas águas desse pântano escuro, acabamos por infligir a nós mesmos e aos demais, desnecessários momentos de fragmentação, os quais por vezes, não raro, se mostram totalmente impossíveis de serem reparados. É somente por meio do equilíbrio que podemos seguir viagem, rumo a libertação do passado e a restauração de um agora pleno de presença e em comunhão com nossa real Natureza Única.
Não é difícil constatarmos que todo conflito tem por natureza essa contradição de desejos opostos, mesmo quando ainda estamos totalmente identificados com a mente adquirida, quando ainda nem sequer entramos em contato com o observador de si mesmo. Mesmo quando somente na mente adquirida, a mesma sempre cria um desejo para logo a seguir, criar uma opção contraditória, isso de instante em instante, até se avolumar na quantidade de opções que nos sufocam por completo; não sabemos mais quais das vozes seguir e então, mais uma voz cria outro desejo de buscar pela voz de alguma autoridade e, sem perceber, ao nos permitirmos esse jogo da mente, alimentamos ainda mais nosso estado de confusão.
Em vista disso, se mostra por demais importante, sempre nos questionarmos quanto ao que realmente estamos buscando e o porquê da busca. Se olharmos com propriedade, veremos que toda busca é em sua essência, uma maneira de fugirmos da não aceitação daquilo que é, daquilo que se apresenta mediante as falas da Consciência que somos. Toda busca visa silenciar essa voz da Consciência e, mesmo a busca por espiritualidade, mesmo a leitura dos livros tidos por espirituais, podem ser usados pela mente com o intuito de neles encontrar por uma breve frase, com a qual possa sustentar a continuidade de algo que a Consciência lhe apresenta como sendo necessário de se abrir mão. Do mesmo modo que fugimos pelas drogas receitadas ou não, do mesmo modo que fugimos pelo sexo e pelo relacionamento, do mesmo modo que fugimos por meio de tantos outros padrões de comportamentos obsessivos compulsivos, podemos também eleger a própria espiritualidade como a droga anestesiante de nossa escolha. Em todo o processo de prontificação, nunca podemos subestimar o poder da sagacidade da mente adquirida, poder este a qual ela sempre lança mão para evitar as devidas reparações que se mostram urgentemente necessárias, sobre tudo aquilo que foi construído em momentos de profunda inconsciência reativa. Então, muitos de nós vamos na busca dos ensinamentos de mestres espirituais de nossa preferência, não para facultar a possibilidade de autoconhecimento, do conhecimento da Verdade, mas sim, para de forma irresponsável amenizar o conflito de opostos criado pela mente adquirida.

Em vista disto, de nada adianta fazer da espiritualidade, fazer do autoconhecimento uma droga de escolha para amenizar os nossos conflitos, pois não adianta: mais cedo ou mais tarde, a Verdade terá que subir à tona; se a Verdade não subir, acabamos novamente descendo até lamber o chão, por causa da teimosia em exercitar a nossa doentia vontade. Se nos percebermos no chão, é porque estamos com o peso de algum desejo sobre nossas costas. Se estamos prostrados no chão é porque estamos insistindo em manter na mochila, nossa vontade obstinada; estamos querendo manter a nossa zona de conforto; estamos querendo manter aquelas roupas apertadas que já não nos servem mais. Então, para novamente ficarmos de pé, basta tão somente, jogarmos as velhas roupas fora e nos permitirmos voltar à nossa nudez original, onde desconhecíamos o amargo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, árvore essa que cria a ilusão de alimentação por meio do conhecido e doloroso conflito de opostos. É preciso que ocorra o renascimento de uma mente sutil e ágil, e esta forma de mente só pode se manifestar, quando de momentos de repouso e aceitação do pouso dessa Consciência, nos apresentando o que precisa dar-se adeus.

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Toda crise é um conflito de desejos opostos


17 junho 2015

A Verdade não admite blefes

Hoje é muito claro que, no que diz respeito ao conhecimento de si mesmo, ficar somente dos domínios do intelecto, é o que significa a essência de uma das falas de Jesus, quando este se referia a “construir a sua casa em cima da areia”... no primeiro vento... Tudo se vai pelo chão... Tudo! Porque não tem base concreta, pois a única dimensão concreta é a base do coração. No que diz respeito ao conhecimento de si mesmo, a base não é o intelecto, pois este, na primeira contrariedade reage com choro, autopiedade e profundos e destemperados ataques de raiva.
É por isso que não cansamos de insistir que, sem a rendição quanto a impotência diante da enorme potência energética e profundamente contraditória do pensamento psicológico condicionado, sem que ocorra aquele sentimento que busca tão somente pela estabilidade emocional, pela necessidade de paz... Enquanto o propósito primordial que nos anima não ter como principal foco o encontro da paz interior, não há a possibilidade de manifestar qualquer outra coisa além da confusão interna, a qual produz o caos externo, que já se encontra por hora estabelecido, nesse mundo construído pela mente adquirida. Não há mínima possibilidade do surgimento de algo novo genuinamente original; o que pode surgir é o endurecimento daquilo que convencionamos chamar de “observador ácido”. E o endurecimento do observador ácido acaba tendo como desfecho, dolorosas e por vezes irreparáveis fragmentações, loucura ou a morte prematura.
Então é de fato uma grande benção quando nos ocorrem essas dolorosas intervenções por parte da inteligência da Grande Vida, a qual nos desperta do pesado estado de sono formado por incontáveis camadas de sonho atrás de sonho. E é justamente nestas dolorosas intervenções que tomamos, a duras penas, a consciência de que no tocante a solução de nossos mais profundos conflitos, o intelecto se mostra totalmente impotente. Seria algo como, em meio de um incêndio de grandes proporções, recorrer ao incendiário para o apagar do mesmo. A chama ácida do intelecto só pode ser combatida com a calorosa e amorosa chama da dimensão do coração.
Agora, se realmente tiver ocorrido a rendição diante da potência energética do pensamento condicionado; se tiver realmente percebido a total impotência diante do fluxo do pensamento, diante desse acúmulo de vozes e imagens desconexas e contraditórias, que ficam no fundo da mente roubando a energia vital do ser que somos; se tiver realmente ocorrido isso, sem que tomemos parte ativa nisso, abre-se para nós uma nova dimensão — a qual sempre esteve ai, mas devido aos condicionamentos, nunca antes foi percebida —, e que resgata para nós, mediante um trabalho de prontificação, as genuínas qualidades criativas e integrativas da Realidade Única que somos.
É só nesse momento que passamos a ter o desejo redirecionado para a Fonte de todo desejo, a qual nos é revelada pela maturação do processo de conhecimento de si mesmo. Só aí é que nos deparamos com Algo muito além da limitada arena do pensamento, do intelecto. Caso contrário, continua o insano desfile de achismos, quase sempre originados de influências externas, os quais, com coloridas imagens nos prometem por felicidade e completude, mas que, na primeira curva da estrada do real, nos apresentam seus dolorosos, solitários e carregados tons de cinza.
Portanto, é preciso muita seriedade e certa maturidade para ir fundo na busca de resposta única capaz de colocar um ponto final na pergunta: “Por que sofremos?” Se formos realmente sérios e dedicarmos a energia necessária para fazer frente a essa pergunta, em seu devido tempo nos depararemos com a seguinte resposta: “Sofremos por causa das consequências do abuso de nossas vontades e desejos, os quais sempre trazem consigo reações inconscientes e inconsequentes. E, quando bate a consciência quanto as consequências de nossos ataques de inconsciência é que nos vemos completamente desiquilibrados emocionalmente, sem saber o que fazer com o triste e complexo resultado delas. E o pior de tudo é que, com a mente em tal estado de confusão, saímos por esse mundo a fora, derramando-nos nos primeiros ouvidos que dão atenção as nossas lamúrias, para depois de certo tempo percebermos que mais uma vez fomos enganados, explorados e carregados de embotamentos que só aumenta nosso estado de confusão. É a duras penas que percebemos que a nossa falta de maturidade e sua consequente falta de autonomia psíquica-emocional, torna-nos presas fáceis de sagazes sorrisos disfarçados de espiritualidade e religiosidade, os quais trazem escondidos embaixo das mangas, escusos interesses egoístas.
Então, uma das principais etapas do autoconhecimento está na reorientação de nossos desejos, para o desejo único de saber se é possível encontrar por paz, a mesma paz que se encontrava no brilho de nosso olhar e no cheiro de nossa pele, antes que tivéssemos nosso espírito condicionado pelo mundo das palavras, imagens, crenças e conceitos, os quais deram margem a mais variada forma de desejos sagazmente condicionados por terceiros, estes, quase sempre por nós desconhecidos.
A essência do autoconhecimento aponta para o objetivo primordial da busca da verdade; para a busca da verdade de nossa única realidade... Isso é a única coisa necessária... Isso é o peixe grande a que devemos nos agarrar... Essa é a preciosa pérola que se encontra nas inexploradas águas do ser que somos... O autoconhecimento não é egocrático, portanto, não visa a consecução de nossos desejos autocentrados... Ele só nos promete pela Verdade além do espaço tempo, mais nada... Mais nada... Não adianta ficar com a carta da sua expectativa debaixo de uma das mangas, pois certamente, sua carta nunca estará no baralho da Verdade. A Verdade nunca será democrática com os desejos da mente adquirida que foi herdada de nossos pais, parentes e amigos ou da própria experiência adquirida durante longos anos de infortúnios provenientes da enorme coleção de achismos e de incertas certezas emprestadas. Se quisermos insistir nisso é melhor nos prepararmos para a continuidade de uma vida de incontáveis sofrimentos e ilusões e, o pior de tudo, é que nessa triste escolha, certamente causaremos os mesmos sofrimentos e ilusões a todo aquele que entrar em contato conosco estando em semelhante estado de sonambulismo.


Outsider

Peregrino

Outsider

A contradição esconde a chave da porta do céu

O que percebemos ao longo dos anos é que muitos dos chegam ao caminho do autoconhecimento não possuem o tão necessário estado de rendição diante da impotência do processo mecânico e acelerado do pensamento psicológico condicionado. Vários são os que chegam neste caminho por meio de pequenas e breves crises “pontualizadas”, as quais produzem uma carga de dor, mas não a dor necessária para que ocorra a instalação do sincero desejo de buscar por respostas que facultem a transcendência da mesma; estes não tiveram, de fato, o que convencionou-se chamar de “fundo de poço” quanto a questão da impotência diante do fluxo mental; não lamberam o chão dos castelos suntuosos de suas ilusões, segredos e mentiras, o que impede a percepção da seriedade e gravidade que é a existência sobre os domínios das poderosas garras dos ataques mentais psicológicos. Sem esse fundo de poço, torna-se muito rara a possibilidade de uma percepção visceral do que ela pode nos ocasionar se damos continuidade a ação de seus letárgicos enredos, quando da total identificação com o fluxo de suas imagens e vozes, as quais são geradas independente de nossa vontade.
Então, muitos são aqueles que se deparam com o caminho do autoconhecimento e, inicialmente o acham fantástico. De fato, se deparar com os ensinamentos de seres que conseguiram se “transmentalizar”, que conseguiram vencer seus cacoetes pessoais por meio de um dissolver-se na essência da Realidade Transpessoal, é algo deveras fascinante, por demais encantador. Esses ensinamentos — seja por meio de livros, áudios, vídeos, filmes ou mesmo no presencial — acabam por encantar a dor, mas apenas por um momento. Muitos, de forma inconsciente tentam usar o material do autoconhecimento apenas para abafar a dor e não para levar a sério um processo de observação de si mesmo, para a compreensão de todas as ilusões, as quais uma vez transcendidas, os prontificam para o estado necessário da ocorrência Transpessoal, na qual está a única possibilidade de cura quanto a hipnótica e inconsequente euforia das ilusões. Usar o material apresentado para o autoconhecimento como uma forma de anestesiar momentaneamente a dor causada pelo afastamento do Ser que somos — a dor do não ser —, é mais uma das manobras ilusórias pertencentes ao velho enredo da adquirida mente condicionada.
O material do autoconhecimento, quando observado com seriedade e paixão, vai minando as bases do que foi formado anteriormente, ao mesmo tempo que vai trazendo novas informações que preparam o terreno interno para que ocorra a grande e emergencial “rasteira consciencial”, a qual lança ao chão nossa adoentada forma de olhar o mundo, olhar este que acabou por infectar a realidade de quase todos e tudo com que mantínhamos contato.
Como costumamos dizer de forma bem descontraída, dessa “rasteira consciencial”, acabam ficando novamente de pé, somente aqueles homens e mulheres que possuem o “saco roxo”; os que não foram dotados de “tal qualidade” necessária, correm o risco de sumir do caminho do autoconhecimento, quase sempre sustentados em desconexas justificativas, que não são mais do que imaturas negações que produzem o estagnante auto-boicote (isso quando, não raro, iniciam um processo de loucura, ou mesmo, acabam por cometê-la, chegando por vezes à morte prematura).
Entrar no caminho do autoconhecimento fazendo uso tão somente da porta do intelecto é o mesmo que — como muito bem expresso num conhecido preceito espiritual —, “cometer as mesmas insanidades, esperando por resultados diferentes”. De fato, o intelecto tem o seu devido lugar no processo de autoconhecimento. No entanto, se não tomamos cuidado, o contato com o material de autoconhecimento pode, ao invés de colocar o intelecto em seu devido lugar, ou seja, torná-lo um simples e afiado “servidor de confiança”, deixa-o de tal modo “acidamente aguçado”, que o mesmo acaba se mostrando como uma perigosa arma com a qual quase sempre acabamos causando mais danos — além dos que já carregamos em nossa pesada consciência —, não apenas a nós mesmos, mas àqueles com quem acabamos mantendo contato. Quando nos tornamos prisioneiros de um intelecto ácido, sagazmente aguçado, confinamos a nós mesmos no pequeno espaço de seu birrento ponto de vista e, quando nos vemos prisioneiros dos limites de um ponto de vista, não temos a possibilidade de saber o sabor da liberdade de poder se aventurar na Realidade do Aberto, o qual aponta para um estado de ser, criativo de múltiplas e incontáveis possibilidades.
Esse processo de fundo de poço acaba se manifestando mediante a não aceitação dos conteúdos da verdade quanto a nossa realidade interna — a qual molda nossa realidade externa —, verdade esta que nos vai sendo apresentada pela fala mansa e suave da Consciência, a qual acaba recebendo em contrapartida, um bombardeio de vozes contraditórias por parte da mente condicionada, onde em sua base se mantém as poderosas e conflitantes garras do medo, as quais insistem em nos manter aprisionados atrás de numa pesada máscara social, cuja finalidade é distanciar, tanto de nós como dos demais, a revelação de nossa real natureza, cuja essência é liberdade, felicidade e integrativa compaixão.
Independente de quais sejam as artimanhas apresentadas pela mente, em seu devido tempo, a verdade vem à tona com toda sua poderosa energia e acaba massacrando o sistema de defesas da mente, de modo que esta se veja totalmente impossibilitada de dar continuidade as suas neuróticas e compulsivas reações, suas conflituosas manias e tendências, cuja somatória produz a cela do coletivo sofrimento humano. Enquanto não ocorrer a rendição total, continuamos a sofrer por causa das consequências do abuso de nossas vontades e desejos. As consequências de nossos desejos, quase sempre alimentados com enorme volúpia em momentos de entrega à inconsciência, é que acabam criando o massacre total que nos leva ao solo fecundo da rendição. Se não vai ao solo o nosso rosto, a Consciência, não toma seu posto. Enquanto não abrimos mão de nossa condicionada, escravizante e conflitante vontade, não há como deixar de ter a continuidade de uma existência estruturada no sofrimento. Sem abrir mão de nossa obstinada vontade — a qual sempre se vê justificada pela ação do intelecto adulterado —, nos mantemos fechados para a percepção de uma Libertária Vontade, a qual rege de forma anônima e harmônica a realidade de tudo que é, desde que o que é se encontre com Ela devidamente alinhada. A abertura para a dimensão dessa Libertária Vontade, não corre no campo do intelecto, mas sim, no quase sempre inexplorado terreno de nosso coração sutil, o qual se manifesta sempre, quando nos mantemos em estado de silencioso repouso, livre de nossos desejos e medos resultantes do clamor de nossas dependências falsas.
Em última análise, é por meio da observação sem escolhas ou, em outras palavras, por meio da ação de um testemunhar incondicionado, que nos é apresentada a chave capaz de abrir a porta estreita que nos apresenta esse imensurável e inenarrável terreno do caloroso e centrante Coração, cujo fogo sutil queima tudo aquilo que se apresenta como falso, sem lançar ao solo sequer o menor punhado das cinzas do passado, muito menos de macular o sagrado solo do agora com a tóxica fumaça de temerosas projeções futuristas.


Outsider

A mente adquirida finge buscar por ajuda

No meio do desabafo tem um Deus sendo abafado


A importância do reverberar presencial


O processo é solitário mas não sozinho


O condicionamento de ser uma pessoa


O retorno para a natureza original


O despertar do sexto sentido


Pouco caso ordinário

Outsider

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!