Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

21 fevereiro 2013

Diálogo sobre o viver

viver
Out: Uhmm!!! Sei não! Remendar o mesmo velho?... O lance, me parece, é jogar fora essa roupa velha chamada "eu"...

PL: O novo está sempre em construção. Como jogo o eu velho?

Out: Olá! Talvez, começando por não perguntar para ninguém, para nenhuma organização, para nenhum sistema de crença, para nenhum instrutor, como se libertar dessa roupa velha e por demais puída que pensamos ser... E, por si só, se abrir para essa pergunta, dando espaço para o reverberar dela naquilo que realmente somos... Talvez seja por ai! O que somos não se encontra na ponte do tempo psicológico "passado-futuro"... O que somos é este momento; O que somos está além das formas; O que somos está além dos limites da palavra;

PL: Certo somos o que somos.... Creio que posso sim fazer remendos em muitas coisas na minha vida; uma reforma, você não acha que pode melhorar algumas coisas?

Out: penso que a base continua a mesma: o eu condicionado, apenas trocando de condicionamentos, talvez, estes, socialmente mais aceitáveis; é como podar as folhas de uma árvore sem investir energia para observar a qualidade de sua raiz; nesse caso, o que se poda, sempre é passível de novamente crescer; pode até vir com leves alterações, mas está lá. Esse me parece ser um dos correntes condicionamentos sociais: a crença no melhoramento, nos reparos localizados, nessa entidade condicionada que é a personalidade a qual fomos criados para pensar que a somos; o que somos, sinto estar encoberto por essa persona criada pelo parental e social e, por nós alimentada, devido um período de total inconsciência. Reparação externa, para mim, é como pintar as grades da prisão, como embelezar um pouco a cela: não traz liberdade. Penso ser muito fácil saber se isso que você está propondo é ou não funcional... Se me permite, lanço lhe algumas pequenas perguntas, não para que você responda rapidamente para mim, mas para que fique com elas, deixando-as reverberarem em seu interior...

São elas: “Você é feliz?”... “Você sabe o que é liberdade?”... “Você sabe o que é uma genuína intimidade consigo mesma, com a natureza e com outro ser humano?”... Você sabe por experiência direta, por vivência direta, o que é isso que tentam expressar através da limitada palavra "deus"?

PL: Sim! Não posso nem te responder; você é uma pessoa que tem o conhecimento que não tenho; apenas posto o que gosto e não tenho intenção de nada.

Out: Veja, por favor, nada de pessoal aqui. Li seu post, meditei com você e, com a minha resposta em seu post, a convidei para meditarmos juntos; só isso! Não acredito em remendos! Remendo novo em roupa velha?... Já disse alguém que passou aqui há muitos anos e, que pelo que parece, não foi entendido por quase ninguém.

PL: Obrigada!

Out: Todo meu respeito ai!

PL: Vou ler suas perguntas sim; gosto de saber e entender...

Out: Ok! Abraço fraterno!

PL: Você pode me ajudar? Estamos aqui para aprender uns com os outros; acredito que alguns estejam num estado mais evoluído e outros não.

Out: Olha! Cmo costumo brincar, podemos "trocar figurinhas sem colar"; não dá para colar nada; nada de permanência; as percepções mudam... Vamos trocando "abobrinhas", elas tem vitaminas e só depende do tempero de cada um para se mostrarem nutritivamente saborosas.

PL: Sim! Entendo. Out, sei lá, acho que posto bobeiras mesmo, ou talvez, não consiga expressar aquilo que penso.

Out: Olha, não há espaço para comparações e julgamentos; o lance é observar... Absorver o que é verdadeiro e o que é falso e, nesse absorver, se absolver das ilusões. Cada um no seu ritmo; cada um no seu compasso; cada um no sopro que lhe habita. Está tudo certo! Tudo é meditação!

PL: Sim! Já volto! Telefone!

Out: Ok!

PL: Oi! Você não tem religião? Li na sua página.

Out: Bem, aqui é preciso fazer uma distinção; acho que o que você me pergunta é se faço parte de algum sistema de crença organizada... Nesse caso, não pertenço a nenhum sistema.

PL: Nem eu.

Out: Agora, todos temos uma religião, pessoal, única e intransferível, que é esse movimento interno que nos aponta que algo falta, que a vida não pode ser só isso, que nos faz questionar, que nos faz arriscar abrir mãos de todas as desnutritivas convenções  religião é esse impulso que se manifesta através do tédio, através da insatisfação, através do sentimento de rotina; isso para mim é religião.

PL: Acredito que a vida não é só isso.

Out: Religião é essa "saudade" daquilo que sentimos existir e que não se encontra nos limites das palavras, nos limites da mente, nos limites do manifesto; é essa ânsia pela manifestação do não-manifesto e que, muitas vezes,

Acabamos confundindo com essas transitoriedades externas que prometem por alegria e felicidade e bem estar, mas que frustram em seu devido tempo.

PL: Saudades do que ainda não temos...

Out: Não, não. Não se trata de ter ou não ter; somos isso; isso que somos é a essência da religião.

PL: Sou lenta!

Out: Religião é essa fala interna que nos diz: “Veja, você se afastou daquilo que realmente é, em nome de ter a aceitação dos outros, ter a aceitação da sociedade; portanto, lance isso por terra! Rasgue já os remendos e perceba, por si mesma, o que você é e que já está aí.

PL: Difícil!

Out: Isso que você diz, seria o mesmo que uma gota do oceano estar procurando pelo oceano. É o pensamento dela que criou a separação dela como sendo uma gota.

PL: Sou uma pessoa muito medrosa.

Out: Todos somos; é natural, fomos formados pelo medo, para o medo.

PL: Estou tentando.

Out: Aceitar isso, aceitar o fato que temos medo, sem mascarar, penso ser o início da coragem. Vivemos numa cultura do medo; vivemos na educação do medo e da vergonha; é natural, depois de anos de exposição à isso, sermos o medo. Dentro desse condicionamento, não temos medo: somos o medo! Isso, enquanto nos identificamos com ele. Veja, não aprendemos a olhar nossos medos de frente; não aprendemos a convidá-los para um chá das cinco; não somos íntimos dele. Se nos sentássemos com ele, descobriríamos do que é feito, de qual é a sua natureza e, perceberíamos que o medo é pensamento; é o pensamento não observado, este, sempre atuando no fundinho de nossa mente, enquanto estamos agindo de forma mecânica nas atividades do dia a dia. Esse pensamento não observado é uma projeção na mente, seja ela do passado, seja ela no futuro; portanto, são fantasmas. Quando se é criança, é natural ter medo de fantasmas mas, não quando adentramos na fase adulta. Penso que o que separa os adultos dos adolescentes psicológicos é essa disposição de dar as boas vindas aos medos; é essa disposição de "dar a outra face ao inimigo"; é essa disposição de "fazer as pazes com teu inimigo oculto".

PL: Sim! Pior que é a verdade! Mas, o medo também age como forma de proteção.

Out: Veja, quando é proteção, não há espaço para o medo, só há ação imediata; o medo é sempre uma projeção no tempo, portanto, uma irrealidade. Ele traz sempre reações, ou seja, ações em ré; ações repetidas do passado. Quando há um perigo real, há ação imediata; depois da ação, quando o pensamento surge, é que temos o medo; é o pensamento que começa com os "poderia acontecer", "e se"... Tudo isso que sabemos bem como que é.

PL: Ok! Então é assim: vou fazer uma cirurgia, certo? Tenho medo.

Out: Isso é medo! Um movimento da mente no vir-a-ser.

PL: É normal.

Out: Não, não é normal! Por que viver nessa masturbação mental quanto ao que possa ou não ocorrer? Por que, absorvido nessa preocupação, perder o agora?

PL: Eu tenho...

Out: A necessidade da operação é fato! O que se pensa sobre ela e seus possíveis resultados não é fato! Se ocorre esse medo, olhe, observe, veja suas nuances, suas falas, suas imagens, seus filminhos... Perceba seu movimento nisso... Você perceberá que você não é o medo, mas sim, a consciência que está se tornando consciente daquilo que antes era inconsciente: o medo. Esse estado de observação cria uma espécie de "espaço" entre aquilo que você é realmente e o medo; isso é como um isolante térmico que não deixa o medo “se alastrar”, percebe?

PL: Entendendo, tentando...

Out: Veja, engatinhemos aqui: como você pode ser aquilo que está observando?... Você é o observador ou é a coisa que está sendo observada? Percebe a magia disso?

PL: Out, podemos continuar mais tarde?

Out: Sim, claro! Deixe reverberar isso ai em você. Valeu a prosa!

PL: Quero continuar te ouvindo, ou melhor, lendo.

Out: Ok!

PL: Você é rápido!

Out: Se me permite: leia-se enquanto me lê; quem sabe, nesse movimento, você consiga encontrar o autógrafo do seu autor, que em última e intransferível percepção, é você mesma.

PL: Posso te preguntar o que você faz da vida e onde obteve tanto conhecimento? É professor? E, com certeza, você segue uma linha.

Out: Fui agraciado por poderosas depressões iniciáticas na escola da Grand Vida; elas me ensinaram a questionar, a observar e a compartilhar. Profissionalmente, no momento sou apenas um fotógrafo.

PL: Estudioso.

Out: Agradeço a vida pelo presente da depressão; foi o melhor acontecimento, mesmo sendo profundamente doloroso.

PL: Sim! Eu também agradeço pelas fraturas no tornozelo, as várias depressões e os quadros de ansiedade. Vou indo! Senão, não desenrolo e nem remendo rsrrs

Out: Valeu! Excelência no agora que é você!

PL: Grata! Fui!
_______________________________________________
Diálogo via Facebook

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!