Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

26 abril 2012

A justiça não é cega


Num ritmo diferenciado dos demais dias, ele adentrou na padaria, vestindo uma engomada camisa social, uma vincada calça de linho e sapatos impecavelmente lustrados. Como de costume, me cumprimentou com aquele social "bom dia", o qual retribui, seguido da pergunta:

— Onde vai logo cedo com tamanha elegância? Fazer exames?

— Antes fosse; hoje tenho que prestar depoimento diante do juiz. Vamos em quatro: eu, um delegado e mais dois amigos, também policiais. Tenho que ir assim vestido por causa desse juiz, já conheço o figura. Com ele, preso tem que ir vestido com roupa de preso e, se você for de qualquer jeito, ele nem te deixa entrar na sala de audiência, não te escuta. O figura é casca grossa!

Uma vez dito isto, cumprimentou os demais colegas da padaria e se posicionou como sempre, diante da mesma, com seu olhar silenciosamente observador. 

Enquanto me deliciava com mais um gole de café expresso, questionei com meus botões:

— Que raio de justiça é essa que, para sermos ouvidos, nos rouba o direito da liberdade de nosso cotidiano modo de ser?

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

Um pergunta essencial


Quanto mais observo a acelerada, superficial, mecânica e logisticamente automatizada vida das pessoas, mais me dou conta do quão pouco me é necessário para, de forma positiva, responder a essencial pergunta: sem isso tudo, sou feliz?

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

Sagrada insistência


Mesmo sem renda ter,
não me rendo;
insisto em ser,
eu mesmo.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

25 abril 2012

Security Essentials


A meditação é o antivírus do espírito,
um firewall contra condicionamentos.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

24 abril 2012

Educação ainda que tardia


Nossa educação sofreu e parece ainda sofrer de uma enorme inversão de valores, os quais ainda não foram devidamente estudados pela ciência. Somos educados para a busca do alcance do estado mais elevado de padrão social e não para a busca do mais elevado estado de consciência, capaz de esclarecer um processo de descontinuidade do herdado caos formado pela ambição geradora da enorme desigualdade social. Somos educados para dedicar nossa vida à uma alienante especialização, desde que lucrativa, e não ao pleno desenvolvimento de todos os nossos canais de sensação e percepção de mundo. Em resultado disso, todo homem alienado é um co-responsável pelo presente, complexo e intrincado caos social, este resultante da supressão sistêmica de seus sentidos mais intrinsícos que apontam para a manifestação de uma consciência amorosa, dotada de uma genuína responsabilidade social. Sair do controlado e egocentrado estado de consciência, socialmente culturado, significa ter a ousadia de lutar pelo resgate do abortado processo de desenvolvimento da inteligência humana e, através desse resgate, ser mais um conspirador pelo alastramento dessa inteligência no absurdo, gritante e desnivelado terreno social.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

Sobre a revolução radical

Clique na imagem para poder ler melhor a tira

No café da manhã, o homem parece estar mais preocupado em discutir uma revolução radical no ritmo do time de seu coração, do que na revolução saneadora da disritmia de seu coração sem coração.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

23 abril 2012

Solve et Coagula


Não é um trabalho de um artista dar ao público o que o público quer. Se o público soubesse o que quer, eles não seriam o público, e sim seriam o artista. É o trabalho de um artista dar ao público o que ele necessita. – Alan Moore

Primeiro Ato

Chega!

Mil vezes um varredor de rua feliz, do que um normótico de sucesso... Mil vezes um rebelde insatisfeito do que um morno satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito.

Recuso-me de vez à padronização cultural que me força a este estado de constante mediocridade.

Sim! Estou ciente de que não é fácil ser do grupo diferente e arriscado demais resistir ao ambiente...

Mesmo assim... Serei persistente!

Não quero com o avançar da idade, ter num corpo decadente, coração e mente dormentes, na poltrona retraído, distraindo-me com o débil movimento frenético de um controle remoto.

Chega!

Não dá mais para disfarçar este constante medo da vida, este medo da luta e das experiências novas, que aos poucos me rouba o espírito de aventura e o frescor da novidade.

Quero de vez me sentir livre do medo de ser e pensar diferente, ainda que em total desacordo com o padrão socialmente vigente.

Na verdade, farto estou desse falso respeito à arcaica e disfuncional tradição e autoridade...

Quero bradar por todos os cantos deste imenso palco da vida, a beleza deste espírito de descontentamento e de revolta, que agora, me toma por completo...

E não me venha com tuas frases prontas ou com teus arcaicos sistemas de crença organizada, pois os mesmos... Não conseguem mais me iludir... Tudo isso pode ser muito eficaz para distrair um infeliz iludido, mas não a um feliz insatisfeito consciente.

E tem mais: recuso terminantemente essa ilusória felicidade de segunda mão; quero descobrir algo original, pois até aqui, no que diz respeito à verdadeira felicidade, nada do que me foi dito teve valor.

Cansei de acreditar em políticos, governos e em sistemas de crença organizada, a qual erroneamente, muitos chamam de religião. Nenhuma destas instituições me quer psicologicamente autônomo e auto-suficiente: sei que isso me tornaria um problema para eles.

Mesmo assim: quero deixar de ser ajustado, mecânico e desprovido de surtos criadores.

Já não há mais como aceitar, como a grande maioria, sem a mínima reflexão, aos poucos me consumir consumindo as idiotices criadas por um idiota qualquer.

Pois bem: não sei onde, não sei quando e muito menos quem, disse que ousar é o preço do sucesso... Então, aqui expresso: ouso pelo Supremo, ouso pela Excelência de Ser, pois farto estou desse público e estagnante vicio pelo óbvio!

E não me olhe com teus olhos travados de ideologias, pois quero ser livre de toda influência... Já não tens como me reformar.

E o que será de mim? Não demoro a te responder: serei um desajustado, um nada, um anônimo, um ser livre da doentia expressão da vontade coletiva, secularmente imposta por uma minoria desconhecida...

O que será de mim?... Digo já: serei um imoral diante de teus olhos condicionados. Tudo bem! Não faz mal! Não me importa!

E pode ficar com teus usos, costumes, templos e livros sagrados, pois nada disso me serviu para viver a vida em toda a sua plenitude; muito ao contrário, me mantiveram por anos e anos apenas existindo feito um humanóide...

Sim um humanóide... Um escravo livre, preso na falsa segurança de uma carteira de trabalho assinada e na possibilidade de consumir em suaves prestações, numa importada loja de departamento qualquer...

Chega!

Nunca mais negarei minha liberdade de expressão, minha originalidade em nome das migalhas da aceitação parental e social...

A partir de agora, de todas as minhas células expurgo os tóxicos e familiares "você tem que" - os quais durante anos me mantiveram preso num ciclo vicioso de medo, culpa e vergonha e que por pouco não fragmentaram por completo meu canal com a Suprema Criatividade.

Chega, pois a partir de agora, Eu decido: serei um artista, um ator, um cantor, um poeta, um dançarino!

O que?... Achas que estou ficando louco?... Ora, ora! Que beleza!... Levam-se anos para chegar nesta santa loucura que a tudo cura.

Portanto, chegue mais perto e olhe... Olhe bem fundo em meus olhos – se é que consegues não desviar os teus dos meus - e veja o que agora ocorre: o velho homem está em seu leito de morte... E não ouse tentar ressuscitá-lo! Deixe que morra!...

Deixe que morra, feito que a morte do antigo é o nascimento do novo!...

Como sei que a estúpida maioria abomina a tristeza e vive a fugir da dor, ainda que doloroso, digo: deixe-me aqui insatisfeito, descontente... Porque debaixo da superfície prospera de minha vida passada, só rotina, frustração, ansiedade, desespero e ilusão eu experimentava.

Portanto, é com seriedade que imploro: deixe que o velho morra!...

Deixe-me ser por livre e espontânea vontade um ser humano dolorosamente sensível...

Chega!

Cansei de fazer parte da enorme massa de manobra sobre a qual, os poucos espertos inconscientemente prosperam materialmente num compasso espiritual decadente. Deixe-me só...

(fim do primeiro ato)
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Segundo Ato

Sim!...

Programado...

Não passo de um computador ambulante. Um ser biológica, física, mental e intelectualmente programado...

É triste constatar, mas, desde criança, programado para ser funcional... FUNCIONAL!...

Para ser um especialista, para ter uma vida em compartimentos, dos quais boa parte deve ficar sempre hermeticamente fechada numa vida de fachada... Um especialista, um mísero ser limitado numa limitada área...

Não passo de uma diabólica e formidável propaganda religiosa, política e cultural, um ser humano de segunda-mão que a tudo aceitou sem a mínima indagação.

Pudera, tanto em casa como na escola sempre proibido me era qualquer tipo de indagação...

É assim e pronto!... Cala a boca e vai pro quarto!... E se falar mais, apanha!... Quer ir para a Diretoria?...

Veja só: um descartável processador de informações de terceiros movido por mouses sem fios... Como não vês: isso é ótico!

Diga-me logo: que fizeram da minha originalidade? Onde está a minha autenticidade? Por que me conformei a repetir crenças feito cativo papagaio sobre o olhar de seu senhor?

Agora vejo que essa programação que "funcionou" por muitos anos, por pouco não me desintegrou. E agora? Como formatar de vez esta HD cerebral? Como liberar a pesada carga que mais que temporariamente mantenho em minha memória? Como ser novamente um indivíduo?...

Sinto medo...

Só de pensar em me abster de tudo que venho tendo como certo há tantos anos...

Meu corpo já começa a dar sinais...

Devo estar ficando louco...

Isso não pode ser real!...

Mas como negar de forma consciente, isso que nas entranhas sinto visceralmente?...

Não!... Nada disso tem a ver com o ser que nasci para ser.

O pior é essa mente que não silencia, com esse acumulo de palavras, esse monólogo de incessante agressividade...

Palavras, palavras e mais palavras... Sou um enorme arquivo de palavras de terceiros que nunca silencia...

Não vês que elas são parte de processos egocêntricos a serviço de interesses egoístas que precisam urgentemente ser colocadas de lado? Consciente que uma mente repleta de palavras não passa de uma mente vulgar e estúpida, digo já: preciso de silêncio... No entanto, onde encontrá-lo?... Como consegui-lo?...

Como posso aspirar pela Suprema Criatividade, pela Excelência de ser, se feito um ser programado, caminho com uma mente amontoada de símbolos?...

Chega! Não há mais como viver de símbolos, pois os mesmos nunca me fizeram alcançar o simbolizado! O símbolo é algo morto, como um enorme e pesado elefante morto no meio da sala, um enorme empecilho.

Preciso da Verdade, pois tudo isto fede... No entanto, como encontrá-la?...

Chega!

Digo adeus às palavras, símbolos e frases de impacto, pois de nada me servem! Quero sentir-me livre! Livre!...

Palavras, palavras e mais palavras!... No tempo em que eu acreditava em palavras era como outros tantos que falam demais por não ter nada a dizer...

Mas agora, nego-as de vez, pois isso que sinto necessitar pressinto não poder ser descrito em palavras...

Só o que não mais necessito pode ser descrito em palavras. Não percebes a inutilidade de tentar expressar esta coisa verbalmente? Não vês que o fato de que as palavras por mais acuradas e precisas, não tem o poder de transmitir a Realidade?

E não te ofendas, mas, de agora em diante, nego todas as receitas que chamam espiritualidade e que na verdade para mim não passam de uma forma doentia de negar a experiência da completude do Ser. Preciso daquilo que está além das receitas e palavras...

Portanto, chega das palavras de terceiros! Não mais!...

Afinal, não deve um homem sujeito a tamanho sofrimento saltar para fora do seu mundo, em vez de procurar valer-se das histórias de quem "talvez" um dia se achou livre de tamanha angústia?

Decido de vez romper com esse emaranhado de palavras e viver de acordo com a fala mansa e suave que quando em silêncio ouço brotar de meu coração.

Pode te parecer loucura, mas sinto que essa é a única esperança de futuro que me resta... Os demais caminhos, já sei onde vão dar, já estive lá mil vezes antes!

Assim sendo, Deixe-me só...

Não há mais como me contentar com a transitoriedade das paixões, a insuficiência das atividades mercantilistas e triviais e a incerteza da afeição humana...

Preciso de silencio... O silêncio profundo do espírito, onde toda palavra se cala e o Supremo se conhece....

Claro está para mim, que somente uma silenciosa mente inocente, é capaz de absorver o Inimaginável.

(fim do segundo ato)

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Terceiro Ato

Espelho, espelho meu:... Será que algum dia já vivi?

Será que faz sentido a vida humana e as atividades sociais terem como único objetivo a conquista da expansão material?

Será que devo me conformar a isso e permitir que tal expansão seja promovida em detrimento da minha integridade espiritual?

Não sei!...

Para onde quer que eu olhe só vejo o culto ao sucesso. Não é a toa que o medo do fracasso seja o maior fantasma que trago há anos em meus sonhos. E poderia ser diferente?

Claro que não!...

Toda minha educação me instruiu à adoração do êxito aquisitivo. Sempre me induziu ao consumismo irrefletido, desde os tempos de menino com Carrinhos de Ferro e o Forte Apache, depois os tênis de borracha com algumas poucas listrinhas e as calças com etiquetas coloridas que custavam os olhos da cara... Acho que começou tudo ali! E ainda vejo o quanto que tantos se consomem por um carrinho de ferro, erroneamente chamado de popular...

Mas se o sucesso é a verdade, por que tantos, apesar da riqueza, da educação e do sucesso profissional que alcançaram, estão tão insatisfeitos com suas vidas?...

Por que essa profunda fome interior que não sabem como saciar pelos corredores dos novos templos chamados de Shopping Centers?...

Ah!... Se ao menos um desses grandes "mortos de sucesso", pudesse voltar para falar através das letras de suas músicas, sobre a crônica incompletude do ser que existindo, sem vida, experimentava...

E, em solidão, são tantos os questionamentos que surgem, quando pelas ruas caminho observando o mundo que se apresenta lá fora...

São nesses momentos, que sempre me surgem os bons questionamentos...

Onde está a simplicidade?

Por que é sempre tão difícil manter-se vivo de forma simples e clara?...

Será que as pessoas de sucesso estão preocupadas com a construção de um mundo melhor?...

Será que isso que chamam de amor é realmente Amor?

Não sei!...

Será que o objetivo da vida é o momentâneo sucesso exterior ou seria o permanente desabrochar do espírito que nos torna realmente humanos?...

O que realmente vale a pena perseguir?... Ter uma mente de valor que ultrapassa as barreiras do espaço/tempo, para além de sete gerações, ou ser uma fragmentada pessoa de sucesso momentâneo?...

Quais as conseqüências de ambas as opções?

Não!...

Decido já: o sucesso não me interessa!

Ele pode ser útil para os macacos do circo, mas não a mim...

O que quero mesmo é saber se é possível ou não viver aqui e agora sem essa doentia, separatista e destruidora ambição, apenas sendo o que nasci para ser.

Quero saber se é possível ser intensamente feliz... Sim! Intensamente feliz, vivendo anonimamente neste mundo, como um completo desconhecido, sem ser famoso, ambicioso e cruel.

E para saber.... Sigo pela estrada menos percorrida, uma vez que o mundo inteiro adora o êxito!...

Deixo de lado a mundanidade e, separado da massa, desse turbilhão inconsciente, sigo ao encontro de mim mesmo.

E resoluto, diante de teus olhos, declaro aqui e agora: serei um artista de verdade...

O que? Não sabes o que é um artista de verdade?

Digo-lhe já, citando-lhe feito um poeta da vida:

O artista é aquele que escolheu como profissão e estilo de vida, o estar em contato constante com sua bem-aventurança. Por isso, aconteça o que acontecer, siga a sua bem-aventurança, e não deixe que ninguém o desvie dela. Há uma voz dentro de nós que diz sempre se estamos na direção certa ou fora dela. E se abandonarmos essa direção para ganhar dinheiro... Perdestes
tua vida... Se estiveres no centro e não conseguires dinheiro.... Ainda terás a tua bem-aventurança...

O que?... Não murmures! Fale mais alto... Queres saber o que sinto ser sucesso?...

Pois bem, sem retrocesso , digo-lhe já e ainda em tom poético:

Sucesso é a compreensão e a dissolução dessa incompletude e sofrimento que não me deixam um só momento...

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Senhores:
apesar de ainda poder ouvir ecos do constante monólogo de muitas mentes, chegamos ao final do monólogo presente!...

Por favor, por favor... Suplico: nada de palmas!

Acenando digo: tudo bem!... Se assim persistem...

Façam-no com uma só mão!

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Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com


PS - Não me é possível precisar até onde vai a minha paternidade literária nesta obra, pois muito do seu conteúdo, é uma mescla das idéias de tantos espiritualistas que fizeram eco, em meu interior, entre eles, Paul Brunton, Osho, Krishnamurti, Joseph Campebell, Tartang Tulku, Alan Moore e outros. De certa forma, acredito que todos os nossos pensamentos são também alheios, pois fazemos parte de uma imensa Rede Universal de idéias, sentimentos e, também, condicionamentos. Uma Rede é uma Rede, mesmo que seja vista em momentos e por ângulos diferentes. Sou uma parte desta Rede de idéias, esta Rede, que para mim, nos mantém distanciados do Imensurável. Acredito que juntos, compomos esta rede.

Sobre orgulho ferido


O que nos faz acreditar em falsas promessas?
Nossa incapacidade de percepção do real.
Culpar o outro por nossa limitação
é ausência de humildade, é orgulho ferido,
e este, sempre busca por um bode expiatório.

Nelson Jonas

22 abril 2012

Vivenciar o deserto é mais do que sentar-se numa duna


Vivenciar o deserto existencial é muito mais do que sentar-se numa duna à espera do primeiro camelo em direção à civilização. A vivência do deserto existencial é uma experiência em que poucos homens e mulheres se encontram devidamente capacitados, internamente, para enfrentá-la. Nesta dura vivência estruturante, ataques mentais, compulsões, tendências e manias remanescentes do fundo psicológico, mesclam-se entre si, criando um confronto que impele para a identificação comportamental que produz o retrocesso, a recaída e, em consequência, a tragicidade do aborto do novo homem, 100% redimido de um antigo modo de vida egocentrado. No deserto, tempestades de ansiedade e medo são uma constante, as quais só podem ser superadas mediante um equivalente superior estado de percepção de si mesmo pela auto-observação meditativa. Dúvidas, crises de identidade, receios de estar perdendo o contato com a realidade, receios da caminhada até então ter sido algo puramente ilusório, também estão presentes no processo. Aqui, a prática meditativa funciona como um "fio terra", um "fio de Ariane", o qual nos mantém firmes e comprometidos com o processo. Ocorre também a sensação de ter-se andando em círculos, de não ter saído sequer do momento iniciático. Apesar de profundamente dolorosa, a vivência holística dessa experiência nos capacita para um maior conhecimento, muito mais apurado e profundamente esclarecedor quanto a natureza irreal pela qual vivemos durante décadas identificados como sendo nosso eu real. Em seu devido tempo, o profundo conhecimento dessa identificação ilusória, poderá se fazer nutritiva, como uma espécie de seta orientadora para outros que estejam próximos dos portais de semelhante experiência que se traduz em novos níveis de percepção e consciência. No deserto, só o real sacia, portanto, tudo que é temporal é como colorida miragem a ser descartada. Aqui, a coragem para a ação do desapego é essencial. Abrir mão do insatisfatório conhecido para a incógnita do desconhecido, para o ego, é algo profundamente apavorante. De fato, por ser um momento profundamente angustiante, não raro, aqui muitos abortam o processo optando pelo conhecido, com suas pesadas correntes da escravidão servil, as quais são impostas pelos seus não enfrentados medos. Outros, menos racionais, diante da incapacidade de fazer frente às suas profundas dores emocionais, infelizmente, acabam optando por uma atitude insana que tem por resultado, um estado de birra glorificada, a qual coloca fim numa conflituosa existência. Para fazer frente à este doloroso momento de dores de parto, é imprescindível a consciência de que não somos o corpo, os pensamentos, as emoções e os sentimentos; é preciso a consciência de que somos muito mais que isso, de que somos a Consciência Observadora que se faz manifesta quando em meditação, quando em estado estado de inação e profundo silêncio. 

Nelson Jonas

21 abril 2012

A solidão do deserto é para poucos


No deserto do real, um dos sentimentos mais constantes é o sentimento de solidão. Não raro, todo aquele que se aventura nessa jornada do herói, nessa trilha menos percorrida, se ressente de não poder contar com outras pessoas vivenciando por situações semelhantes, buscando o mesmo que elas também buscam, falando aquilo que chamo de "o idioma dos proscritos", ou "idioma dos outsiders", idioma este, sempre mal interpretado e quase sempre rotulado de forma negativa por pessoas que nem ao menos desconfiam o que seja a esclarecedora vivência desta trilha menos percorrida. De fato, esse é um tipo especialmente doloroso de solidão, no entanto, ouso dizer ser um dos mais fecundos momentos da jornada do herói. Neste momento, quando a solidão é por nós devidamente abraçada, nosso antigo estilo de vida, adoentado pela excessiva influência de tantas formas de dependências psicológicas — a necessidade de aceitação, de colinho, do ombro amigo, do tapinha nas costas, da validação parental/social — é derretido nas areias escaldantes do deserto do real. Quando se tem a coragem de seguir esse caminho até que se apresente seu fim, adquirimos um modo de vida onde, de fato, a integridade se faz presente e, juntamente com ela, aprendemos um novo idioma dotado de uma inteligência única: o idioma do silêncio. 

Nelson Jonas

20 abril 2012

Society


Prisioneiros entre prisoneiros numa cultura de medo, profundamente fragmentadora, limitante, castradora, inibidora do exercício do desenvolvimento da inteligência voltada para o auto-respeito, a cidadania e responsabilidade social. Em resultado, esta sociedade formada por indivíduos auto-centrados, profundamente egoístas, competitivos, fundamentados no medo, obcecados por poder e prestígio. Homens e mulheres destituídos de um sentido interno, de um senso de direção desinteressadamente altruísta; prisioneiros solitários de suas próprias manias, tendências e  debilidades forçosamente encobertas, as quais impedem o livre exercício do genuíno amor fraternal. Mentes facilmente influenciadas pela ação sagaz de uma mídia de valores corrompidos; homens e mulheres de mente e corações vazios, que não se garantem pelas idéias mas sim pela imposição e tentativa de controle.

Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

Os adultos adulterados adulterantes

Toda criança nasce inteligente mas, devido a falta de inteligência de seus pais, professores e demais pessoas emocionalmente significativas, em questão de poucos anos, a grande maioria delas, se mostra totalmente idiotizada. Os adultos adulterados adulterantes, sistematicamente exterminam a natural sensibilidade criativa infantil, através da imposição de suas não questionadas crenças, conceitos e idéias de vida, sempre condicionadas pela tradição. E, a todo esse acúmulo de bobagens, ousam eles, dar o nome de educação. Esses adultos são como velhos baus empoeirados no sóton do tempo, repletos de coisas antigas, de amarelados conhecimentos, que de genuína inteligência amorosa e criativa, nada possuem. 

Nelson Jonas

Os pobres ricos de riqueza pobre


Só quem em si não possui propriedade,
Perde tempo colecionando propriedade.
Isso é próprio dos ricos endividados
Pela atenção dada ao que é indevido.

Nelson Jonas

19 abril 2012

Ser ou não ser? Eis a questão!


Viver a vida na velha cultura de massa, 
ou ser massa para uma nova cultura de vida? 
Eis a questão!

Nelson Jonas

Homens em obra

Foto: Nelson Jonas - Local: Av. Paulista - Palco de fim de ano

Por volta das 8h30m, à caminho da padaria para o café matinal, num enorme terreno baldio que antes servia de estacionamento para alguns poucos carros dos moradores de um prédio da mesma rua, um enorme bate-estacas, com seu estrondoso barulho, fincava as enormes vigas de ferro para a estruturação da fundação de um novo edifício. Em frente ao terreno, da janela do andar superior da casa, um senhor de fisionomia oriental, com olhar perturbado, à tudo observava. 

Parece-me que todo progresso ocorre do mesmo modo: inicialmente, há um período de demolição, o qual produz enorme confusão; depois, dá-se um período de nivelamento, o qual é seguido do barulho proveniente da instalação dos novos fundamentos. Há períodos em que a obra parece nunca ter fim, no entanto, quando menos se espera, o colorido final se apresenta e, com ele, um novo espaço de vida e alegria. 

Com o homem, parece ser do mesmo modo... Inicialmente, enorme é a confusão gerada pela crise de valores e a sua consequente demolição de ilusões criadas ao longo dos anos pela excessivas exposição à conceitos, crenças, dogmas e pela incontável variedade de condicionamentos sociais. O período seguinte, traz uma espécie de assentamento, um período de nivelação, onde a confusão inicial, já não se faz presente; é como um momento de respiro, um platô, onde se reúne o material necessário, os ajudantes necessários, para dar início a imensa tarefa da construção psíquica, emocional e espiritual, capaz de revelar a obra-prima que o homem traz em si, em retardado estado embrionário. Em cada etapa, especializados "mestres de obras" se apresentam como respeitados guias no canteiro de obras do ser. A cada etapa vencida, em cada patamar de consciência alcançado, maior e mais bela a sua capacidade de visão, maior a ação do silêncio e a qualidade do ar, do sopro que lhe inspira.

Como numa obra, a estrutura externa, visível aos olhos, é a que leva menos tempo de construção. O mais difícil e trabalhoso está no movimento interno, no acabamento e na decoração. Neste período, quando se olha de fora, tudo parece estar estagnado, nada parece estar ocorrendo, chegando a dar a impressão de que a obra encontra-se largada, em estado de abandono. Esse é um período à que muitos chamam de deserto. Nesse período é que todos os suportes, todos os andaimes de sustentação — inicialmente tão necessários  — são deixados para trás. O trabalho agora, é muito mais delicado, muito mais minucioso, um trabalho que requer muito do nosso feminino, um trabalho onde, alma e coração, harmonicamente, se mostram profundamente essenciais. Apesar da intensidade do abrupto barulho inicial não mais se fazer presente, este, aqui também se apresenta, de forma mais amena, no entanto, quase que sequencial. Paciência e determinação são as principais ferramentas deste momento da obra, para que não ocorram futuramente, vazamentos, curto-circuitos e perda de energia que possam colocar em risco tanto o bem-estar pessoal, como coletivo.

No canteiro de obras do ser, não existe momento que seja mais relevante, todos cumprem seu determinado papel, sua determinada função, sem os quais, tornaria-se impossível a manifestação da obra-prima que somos, um dia planejada, na mente amorosa do Grande Arquiteto Criador.

Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

18 abril 2012

A cama dos sonhos

Foto: Nelson Jonas

Mundo Caos

Foto: Nelson Jonas
Cena registrada em frente de casa, durante o descanso de almoço da equipe da Prefeitura, que está no bairro cortando árvores antigas...

A infância passa mas as marcas ficam


Enquanto, na padaria, saboreava meu café matinal, chamou-me a atenção, uma conversa de balcão, dessas em que o locutor faz questão que todos os presentes escutem aquilo que seu pomposo ego pensa ter de especial para dizer. O egocêntrico locutor, por volta de uns 45 anos de idade, cabelos com mechas grisalhas, corpo tomado pela obesidade mórbida, diante da pequena estante de jornais, perguntou para um dos balconistas:

— E aí, "Ceará"? Você apanhou muito do seu pai quando ainda era pequeno?

— Vixe! — de cabeça baixa, respondeu o jovem atendente, enquanto preparava o lanche de outro cliente. 

— E foi por apanhar muito que você virou homem, não foi?    

— Opa! — exclamou o rapaz com um orgulhoso sorriso.

— Pois eu apanhei pra cacete! Peguei o tempo da vara de marmelo... Só que apanhei com gosto! Pois nunca deixei de fazer o que sempre quis! 

— Eu tomava cada tapa no ouvido e pé na bunda, que ficava quase uma semana sem escutar e sentar direito. O "véio", era foda! — exclamou ele, lançando um olhar saudoso.

— Pois é! As coisas agora estão todas invertidas... Você viu no jornal? O cara foi indiciado e está quase perdendo a guarda da filha, porque o vizinho do lado, depois de filmá-lo batendo várias vezes, de chinelo, em sua filha, o denunciou... Quer saber? Se o filho "é meu", tenho direito de educá-lo do jeito "que eu quiser" e ninguém tem nada a ver com isso. Tenho o direito de educá-lo do jeito "que penso" ser melhor. Se funcionou comigo e com você, "tem que" funcionar com "meus" filhos. E tem mais: se alguém me denunciasse por bater num dos meus filhos, com certeza, passado algum tempo, mandaria matá-lo...

Diante de sua postura egocêntrica, o arrogante tom de sua fala e o embolorado teor de suas idéias, de fato, penso que a educação de "psicosurras" ministrada pelos seus pais, cumpriram um equivocado papel: o de lhe roubar a capacidade do exercício de uma inteligência amorosa, tornando-o um irracional e mecânico copista de uma arcaica e disfuncional educação que, da verdadeira Educação, não merece sequer o uso desta palavra. Se ele tivesse um pouquinho só da capacidade de ouvir a si mesmo, com certeza, uma chispa de inteligência, também o denunciaria e, quem sabe, este, em silêncio, permaneceria.

Nelson Jonas

Sobre a mobilização social

Carisma e poder para mobilizar a massa não pensante,
não atesta a presença de inteligência desinteressada.
Nossa história está repleta de exemplos
onde, Adolf Hitler, é apenas um deles.

Nelson Jonas

17 abril 2012

O constante impulso para a fuga de si mesmo


Parece-me que o surgimento do impulso para a fuga de si mesmo, deu-se logo cedo, com o estímulo de nossos pais, através do uso do seio de nossa mãe, o bico da mamadeira, a chupeta adocicada com mel ou o colorido e sonoro chocalho amarrado em nosso berço.  Talvez tenha sido ali que instalou-se a ilusão de que fatores externos poderiam nos distrair de nossa natural inquietação. Esse tipo de comportamento é uma ilusão, uma vez que só tem o poder de, momentaneamente, nos distrair e não o poder de resolver a questão da inquietação e da insatisfação; ela permanece sempre lá, à nossa espera, na próxima curva do caminho, na maciez de nosso travesseiro ou na papelada empilhada sobre a mesa de nosso local de trabalho pela manhã de segunda-feira.

Com o nosso acelerado desenvolvimento físico e o retardado desenvolvimento psicológico é que ampliou-se ainda mais a nossa insatisfação, bem como, a enorme rede de fuga e alienação para com a mesma. A própria cultura e retrógrada educação são quase sempre voltadas para a exterioridade alienante, para o acúmulo de conhecimento dispersivo, para a mecânica memorização de conceitos, fórmulas e imagens, todos sustentados em ideais, que em sua essência, alimentam a fuga daquilo que é, alimentam a alienação da irreal realidade à que muitos se encontram acometidos. Nossa embolorada e condicionada educação, fundamentada na comparação e no castigo e não em colocações amorosamente inteligentes que apontam para a formação de fundamentais questionamentos, não nos preparou para o importante desenvolvimento da arte da auto-observação, para a prática da reparação quanto aos nossos impulsos, tendências e manias, o que resultaria no natural processo desenvolvimento da maturidade e no consequente alcance de uma autonomia e auto-suficiência psicológica. Tudo isto, alinhado a prática de desvirtuados e herdados sistemas de crença — os quais não se sustentam quando colocados diante de um mínimo que seja da luz da lógica, da razão e do conhecimento de seu processo histórico —, adulterou tanto a capacidade de sensibilidade, que só mesmo através da entrega à um doloroso processo de narcotização, para a qual se apresentam infindáveis métodos, uns mais e outros menos socialmente aceitos,  é que muitos conseguiram se manter apenas estressadamente existindo, ainda que sem a presença de vida e a capacidade de contemplação e de seu desfrute em qualitativa abundância.
(continua)  

Nelson Jonas

Sobre análise


Se análise fosse bom
não começaria com anal.

Nelson Jonas

16 abril 2012

Triste constatação


Triste é a constatação: como é facilmente influenciável e manipulável, aquele cuja existência sem vida, é dominada pelo constante estado de ansiedade proveniente de seus inconfessáveis e bem disfarçados medos, os quais são geradores e mantenedores de profundas dependências e infundadas crenças. 

Nelson Jonas

14 abril 2012

Constatações sobre a morte


Aquele que morre antes de morrer, 
em vida, tem o corpo enterrado.


Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

13 abril 2012

O direito de virar à esquerda

Marcha soldado,
cabeça de papel,
se não marchar direito
vai preso pro quartel...

É isso mesmo boa parte do conteúdo de nossa sociedade: uma enorme massa de soldados do sistema, cujas mentes são como amareladas folhas de papel, repletas de rabiscos com normas, regras, crenças, condicionamentos, imposições, deveres e nenhuma inteligência criativa capaz de formular questionamentos essenciais que apontem para o que nos é de direito. Uma imensa massa que, desde a infância, pela excessiva exposição ao medo,  foi sistematicamente coagida à submissão, ao ajustamento e, por causa da ação do medo, essa massa permanece presa dentro das enormes paredes do quartel general do não-ser. O medo roubou a capacidade da questionadora rebeldia inteligente, em resultado, a contra gosto, a grande massa se viu forçada ao debilitante ajustamento servil. O pior de tudo, é que todos os dias, logo pela manhã, essa massa continua marchando de cabeça baixa, trazendo nos ouvidos seus aparelhos sonoros numa tentativa de abafamento da cutucante fala de sua consciência; essa fala que lança um imperioso convite para uma tempestuosa revolução interna, pra lá de emergencial, no entanto esta, é indevidamente negligenciada pela grande maioria. Essa revolução pessoal interna é um chamado para o despertar da inteligência, um convite para ser no coração e não numa cabeça repleta de amarelados e estagnantes papéis sempre rabiscados por terceiros desconhecidos. É um chamado para uma revolução pessoal que não mede esforços e que não teme nem mesmo o risco de se ver momentaneamente preso num canto escuro de um quartel. Os que aceitam esse chamado, os que não cerram seus ouvidos para os cutucões da consciência, sabem que a sociedade sempre teve a tendência de fazer isso com todo homem e mulher que ousa fazer uso de sua faculdade de percepção do falso e do real e que, através dessa percepção, lançam fora de suas mentes, todos os papéis impostos por terceiros. O grande paradoxo é que, anos mais tarde, muitos dos nomes desses homens e mulheres, condenados em suas épocas ao ostracismo, muito de suas vidas, pensamentos e ações, tornam-se para sempre perpetuados nas raras esclarecedoras folhas de papel. 

Talvez, você ainda não tenha despertado para o seu direito de escolha: você pode sim, ousar pelo compartilhar de suas idéias, de suas percepções, ou então, pode continuar com sua triste e enfadonha marcha, de forma "direita", preso dentro do bem disfarçado e intrincado quartel social do não-ser. Sim, você pode fazer frente aos seus medos e em vista disso, exercer o sagrado direito de também poder virar à esquerda e dizer bem alto: Não! Por ai, não vou! 

Nelson Jonas

12 abril 2012

Sobre os desertos desertos


É no deserto deserto que aprendemos a abrir mão da 
nossa débil necessidade de colo e do tapinha nas costas.

Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

A fé invertida


Fizeram do Evangelho 
da humildade amorosa
o evangelho da 
ambição inescrupulosa. 

Nelson Jonas

O colorido circo social

A sociedade é um grande circo, onde os palhaços renomados, no centro do midiático picadeiro digital, distraem os alienados palhaços burgueses, em suas financiadas e bem decoradas arquibancadas. Enquanto isso, os anônimos donos do circo social, na ostentação luxuosa de suas casas em condomínios vigiados, contabilizam os valores arrecadados pela diária bilheteria. Do lado de fora, a renegada população, toma conta do estacionamento ou esquenta as pipocas. No camarim, enquanto limpa a maquiagem, um  ou outro palhaço — estes são raros —, ressente-se com a falta de liberdade de ir e vir do burguês alienado. O burguês alienado, na solidão de sua financiada arquibancada, olhando seu amontoado de contas, perde o sono enquanto sonha com a compra de um circo.  O dono do circo, idealiza a "nova imitada" atração alienante, ao mesmo tempo em que renegocia, à baixo custo, a contratação de seus palhaços de engodo. A renegada população, diante do estacionamento vazio, enquanto sonha com a fama do picadeiro, de forma solidária, divide o resto das pipocas não vendidas. Em vista disso, lhe pergunto: Qual seu lugar nesse circo? 

Nelson Jonas

Visões de Deus


O meu Deus
É um diabo de verdades;
O Diabo deles,
É um deus de inverdades.

Nelson Jonas

11 abril 2012

Minha impessoal doutrina espírita


A prática de minha doutrina espírita não se encontra em nenhum centro externo, com dia e horário marcado para sessão de estudos. Meu espiritismo, como na essência da palavra, está em se permitir ser governado, a todo instante, pela ação do espírito, pelo sopro que me habita e no qual sou, cuja sede própria se encontra no centro dos meridianos do coração. O exercício de minha mediunidade se faz possível sempre que saio dos limites da periferia dos argumentos mentais, permitindo-me assim, ser um singelo mediador, não condicionado por qualquer tipo de crença proveniente de conteúdo livresco, mas sim, pela sutil invisibilidade amorosa da dimensão do espírito. Para mim, ser médium é não ser médio, é não ser morno, é não se permitir o encosto das estagnantes e ilusórias forças do mal, sempre alimentadas pelo espírito da compartilhada mediocridade coletiva. O desenvolvimento da minha mediunidade ocorre quando, em silêncio mental, dedico-me de forma minuciosa, destemida, livre de resistência ou escolha, à escuta atenta da fala mansa e suave proveniente da chama viva do coração.

Nelson Jonas

10 abril 2012

Ditadura da moda


É muito fácil seguir a moda:
basta abrir mão da capacidade de pensamento.

Nelson Jonas

Rompendo com as dependências psicológicas


Se antes já não dava para esperar nada do outro, 
que dirá agora, depois de tanto estrangulamento do ego?

Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

09 abril 2012

O resgate da originalidade do ser

Durante o café matinal, na companhia de um amigo, conversávamos sobre a ansiedade que por vezes tenta me pegar, devido o consciente momento de ócio que atravesso. No início do ano, decidi "fechar-me para balanço" e não mais me dedicar aquilo que até então, supria minhas necessidades financeiras à um alto custo que contrariava o chamado de minha consciência e coração. Fazendo o balanço da minha existência profissional, pude ver que nunca manifestei algo realmente criativo, algo realmente original. Minha arte, sempre estava atrelada ao poder de "modificar" o já manifesto por outros, o que em outras palavras, não passava de mero plágio e que fazia com que, em meu intimo, me sentisse como uma farsa a ser descoberta a qualquer momento. Além da consciência me bombardear pelo plágio, este, tinha como único objetivo atender as expectativas de um sistema autocentrado, profundamente competitivo, alienante e pra lá de mendigante. Ver assegurada as minhas necessidades financeiras em detrimento das intrínsecas necessidades espirituais, já não estava mais em questão. Desde então, tenho me permitido a vivência do ócio, sempre que possível, em momentos de solidão. Neste período, pude perceber um aumento crescente da percepção de mundo, assim como um aumento da sensibilidade, da receptividade à um poder criativo, do qual, sou mero instrumento receptor. Diante disso, vem se instalando também, uma segurança interior nunca antes experienciada, a qual tem se feito expressa através da ajuda da prática da auto-observação, a qual impede a instalação da identificação com os medos, ansiedades e as constantes influências externas que insuflam a idéia de entrega ao dependente e explorador movimento de ajustamento servil. Sinto que, sem a manifestação de algo realmente criativo, não há como o homem se ver livre da profunda e constante ansiedade por busca de segurança psicológica. Quando não nos permitimos ser um depurado canal de manifestação criativa, não há como deixar de ser um mero copista, um ajustado servil, uma peça a mais da corrupta e enferrujada máquina social, peça essa a ser descartada diante da competição de menor valor. Isso está bem claro em minhas entranhas; é muito mais do que uma idéia romântica, já faz parte de minha carne e consciência e, contrariar isso, é o mesmo que cometer suicídio à longo prazo.

Enquanto explanava este ponto de vista para meu amigo, atrás dele, na fila do pão, a estampa da camiseta de uma moça me chamou atenção. Provavelmente, sua camiseta de gola polo, fazia parte de um uniforme de empresa; trazia as mangas e gola em tom vermelho e no corpo azul marinho, destoava nas costas a seguinte palavra impressa na cor branca: COMPROMETIMENTO. Para você, isso pode não fazer nenhum sentido mas, para mim, senti como um aviso da Grande Vida para que eu desse continuidade ao processo de ócio meditativo. 

Para colaborar com isso, repentinamente fomos abordados por uma senhora, por volta dos seus 55 anos, que sem ao menos me cumprimentar, intimou meu amigo para que, em particular, lhe dedicasse um pouco de sua atenção. Ele, visivelmente embaraçado, levantou-se, encaminhando-se em sua direção. Pude perceber que ela estava ansiosamente perturbada (o que para muitos parece ser um sintoma natural das manhãs de segunda-feira). Enquanto eles conversavam, voltei-me para a leitura do livro de Osho, intitulado "Criatividade — Liberando sua Força Interior". Para minha surpresa, o parágrafo no qual havia parado, trazia o seguinte conteúdo:

... "Você não sabe o que significa a palavra criativo. Criativo é sinônimo de novo, insólito, original. Criativo é o mesmo que inigualável, desconhecido. Você tem de estar aberto a isso, desarmado... A pessoa criativa é aquela que traz algo do desconhecido para o mundo que se conhece; que traz algo de Deus para o mundo; que ajuda Deus a enunciar algo — é aquela que se transforma num bambu oco e permite que Deus flua através dela. Mas como tornar-se um bambu? Se você estiver muito cheio com as próprias idéias, não pode tornar-se um bambu oco. E a criatividade emana do Criador — é quando o Criador toma posse de você. 

Os verdadeiros criadores sabem muito bem disso, o fato de que não são criadores — mas apenas instrumentos, médiuns. Algo acontece por intermédio deles, é verdade, mas eles não são os realizadores disso". 

Ao término da leitura do mesmo, novamente, lá estava meu amigo, rindo-se da situação que abruptamente lhe fora apresentada. Era uma confirmação daquilo que estávamos até então conversando. Ele me disse que se tratava de uma amiga dos tempos de colegial, já aposentada há alguns anos e que queixava-se da sua incapacidade de ficar em seus aposentos, e que diante de tal incapacidade, agora buscava novamente por uma "recolocação qualquer" dentro do mercado de trabalho. Não lhe interessava o que fazer, seu interesse estava em ver-se  livre da angústia do não fazer.

Essa dificuldade diante do ócio me parece ser algo muito natural, uma vez que, não fomos ensinados e incentivados ao silêncio meditativo, inativo. Do mesmo modo, a prática da busca pela real vocação, nunca foi incentivada, o mais natural sempre deu-se pela busca por uma "colocação qualquer" no explorador mercado de trabalho, o qual exige muito mais um mecânico e rotineiro estado "funcional", do que o exercício da capacidade de inteligência criativa. Se em tempos idos da história de nosso país, através da carta de alforria, libertaram o homem da escravidão pelo trabalho forçado, em nossos tempos atuais, tal escravidão foi devidamente "cosmetizada" através de um carimbo qualquer numa carteira de trabalho — o qual ilusoriamente cria a sensação de bem estar pelo poder de aquisição de pequenos e aceleradamente cambiáveis bens de consumo —  e na possibilidade futura de um mendigante desfrute do amargor de uma debilitada previdência social que, pelo que tudo indica, já se apresenta bem próxima de seu prazo de validade.  

Depois de mais um "chorinho de café", nos despedimos, seguindo cada um para as atividades do dia. Já em casa, quase do término deste texto, fui abordado por minha mãe, para o desfrute do restante da bacalhoada de páscoa. Enquanto ela esquentava nossa comida, eu lia a parte até então escrita deste texto que versa pela busca da autenticidade e originalidade criativa. Para minha surpresa, ao meu lado esquerdo, bem na ponta da mesa, alguns vasilhames vazios de cerveja, apreciadas por nós, no nutritivo encontro do dia anterior. Apenas uma das escuras garrafas, trazia em minha direção, seu colorido rótulo, cujo centro apontava para a seguinte marca: ORIGINAL...

Para você, isto pode parecer algo forçado, ou mero romantismo de minha parte mas, para mim, que ao longo dos anos pude resgatar a negligenciada arte de perceber os sinais da Grande Vida, arte esta que fazia parte do modo de vida de nossos ancestrais, isso é muito mais do que uma sincronicidade; para mim, isto é o modo com que Deus — ou o nome que você prefira dar para expressar a realidade de uma criativa e amorosa inteligência superior — se comunica apontando para o caminho a ser seguido, mantendo-se amorosamente em seu original anonimato criador.

Em vista disso, continuo aqui, solitariamente meditativo, totalmente comprometido com a escuta da manifestação daquilo que é 100% original. Até lá, paciência é a palavra.

Nelson Jonas

08 abril 2012

A descrença de minha crença


Na descrença
de minha crença,
por amor à Deus, 
sou religiosamente, ateu.

07 abril 2012

Sobre carência afetiva


Nunca subestime o poder da carência afetiva;
dela é que surge toda forma de demência reativa.

Sobre o sentir e o mentir


O que se fala sem sentir
é o que produz o mentir.

Constatações sobre o silêncio


Pelos ecos do silêncio é que se desfaz
a cosmeticagem da realidade. 

06 abril 2012

A beleza da arte de romper fronteiras

Nosso enferrujado passado, aponta para baixo,
enquanto a vida, de forma colorida, nos convida para cima.

Olá irmã, paz e bem! Olha só: não ligo muito para o vínculo parental, isso foi importante um dia. Também não me importo muito com nossos acertos e erros do passado. Com a educação parental/social que tivemos, não havia como ter uma mente e coração assertivos, dotados com amorosa inteligência para a ação. Cada um de nós, inclusive os adultos significativos que nos rodeavam — e muitos dos que ainda nos rodeiam — também estavam tentando sobreviver aos seus medos inconfessáveis, os quais sempre nos jogavam para um modo de vida reativo e, por vezes, inconsequente. Seja lá o que a vida nos apresentou, seja lá o que fizemos com o que a vida nos apresentou, sinto que devemos honrar nosso processo, aprender com tudo, reparar em tudo e seguir viagem... Se existiram erros — e claro que existem — só serão erros se não tivermos nos sentado com eles e extraído sua devida lição. Se aprendemos com eles, crescemos, caso contrário, amargamos e, consequente, amargamos a vida dos que estão ao nosso redor. Isso é algo lógico e factual. 

Todos nós somos belos e criativos, todos nós temos talentos — que para alguns estão por demasiado, lentos — que precisam ser vivenciados e compartilhados mas, para isso, é preciso saber ouvir a fala mansa e suave de nosso coração, há muito negligenciado pela ação do medo. Todos nós somos vitimados pelo medo e, é pelo medo, que criamos uma série de conflitos em nossa vida de relação. Não tivemos uma educação emocional/psíquica, ao contrário, ela foi cartesiana demais, lógica demais, calculista demais, portanto, é claro não sabermos como lidar com nossas emoções, sentimentos e, principalmente, com o desconexo redemoinho de nossos acelerados pensamentos. Quando vivemos assim, não há como ser possível autenticidade e intimidade e é por isso, que o mundo sofre, veja bem, o mundo sofre... Não é só você eu e os demais que fazem parte direta de nossa história. 

Sabe, um dia, num grupo de terapia que frequentei por muitos anos — pois quase me suicidei de tanta depressão —, li a seguinte frase:

"Se pudéssemos ler as histórias secretas de nossos inimigos, desarmaríamos, com certeza, o ódio de nosso coração".

Sempre é tempo de demolir nossas fronteiras, erguidas por nós mesmos, numa tentativa de proteção. Sempre é tempo de tentar superar possíveis fronteiras que muitos ainda usam para sobreviver. A vida é muito mais que sobreviver, a vida, é viver. Não cabe a nós saber como o outro vai receber nossa tentativa de reparação; isso é lá com ele. O importante, é liberar sempre essas desgastadas cercas que nos mantém num passado escuro e que nos impedem o compartilhar de um colorido agora. Saiba que não há cercas em meu coração. Não a julgo, não tenho como saber o que você viveu nos segredos do lar em que você cresceu. Todos nós somos sobreviventes de lares repletos de segredos, mentiras e tentativas de expressar de modo indevido, amor. Todos tentamos! Não fui eu que vivi excessivamente exposto ao inconsciente "lado B" daqueles que estavam ao seu redor. Não fui eu que sofri suas pressões. Portanto, as portas da minha simples casa, continuam abertas para você e sua família, não como família consanguínea, mas como membros de uma única família, que juntos trabalham na superação de todas as formas de prejuízo, trabalho esse que se inicia pela restauração do prejuízo manifesto em nosso olhar. Sem a mudança de nosso olhar, sem a superação das grossas lentes do medo que impedem a clareza do olhar, nossa vida não tem qualidade. Não precisamos ficar no passado, com certeza, ele foi doente. Ao invés de doença, podemos e devemos caminhar em direção "do Ente" que habita em nós. 

Cara irmã, seja bem-vinda à raça humana! Levam-se anos para se tornar humano. Há muito trabalho a ser feito: o mundo dorme e nós, ainda, cochilamos! O que você fez agora é sinal de saúde: romper isolamentos e ousar se expor. Eu recebo de coração, seu movimento e ainda, lhe incentivo: ouse ser você, mas não esse você que você pensa ser... Há uma natureza real que somos nós, que é livre do medo e que olha para tudo isso e ri, ao mesmo tempo em que se delicia com a harmonia do cosmos. 

Com alegria é que lhe digo: Avante! Mais do que nunca, você merece ser feliz! Você deve isso à você e ao mundo! Isso começa, agora!

Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Com carinho, de um amigo de jornada 

Nelson Jonas

05 abril 2012

Alerta aos navegantes


O canto das sereias
é doce e encanta;
Ele vêm pelas beiras
e o sentido do Real,
espanta.

Tempo e ilusão


Dedicamos tempo à nefasta educação.
Dedicamos tempo à rotineira profissão.
Dedicamos tempo à paga catequização.
Dedicamos tempo à busca de distração.
Dedicamos tempo à alienante conversação.

À graciosa revolução da conscientização
pela ação da meditação, não!

03 abril 2012

Fim dos tempos


Acordei as 4h03m da manhã, com a seguinte linha de pensamento: Como deve ser terrível, nos últimos momentos da existência ver passar o filme dos dias e perceber uma coleção de equívocos, de auto-enganos adquiridos pela aceitação e influência de valores falsos, perceber nunca ter vivido uma autêntica comunhão, um verdadeiro partilhar, uma verdadeira intimidade, seja consigo mesmo ou com outro ser humano. Como deve ser terrível se deparar com o fato de nunca ter vivido a beleza da compaixão e do genuíno amor, de nunca ter se visto livre do sentimento de separatividade, da ansiedade, do medo e do profundo e angustiante vazio da solidão. Como deve ser triste e agonizante, nos momentos que precedem o último suspiro, não ter a consciência tranquila, não ter travado o bom combate e conseguido superar a alienante influência propagandista de um mundo mercador de ilusões; chegar ao portal da morte, sem ter morrido para si mesmo, totalmente desconhecido de sua real natureza e, portanto, sem saber quem realmente é. Como deve ser dolorosamente angustiante agarrar-se à cama, implorando por mais tempo, por uma segunda chance, por perceber que, de verdade, a vida foi uma grande mentira. Como deve ser triste, neste sagrado momento, não se sentir pronto, calmo, sereno e em interior harmonia, pode exclamar: 

— Pai, em tuas mãos, com desapego e alegria, entrego meu espírito, pois estou em casa!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!