Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 abril 2011

Os lampejos da verdade


O que mais tememos: os lampejos da verdade que afastam de vez as grossas nuvens negras de mentira que contamos a nós mesmos - depois aos outros - e com as quais, encobrimos nossa triste realidade, sempre mascarada de branca alegria.

Nelson Jonas

27 abril 2011

Divagações num vagão do Metrô

Metrô
Metrô, por NJRO

16h12m de um dia nublado de outono. Bate o vazio e com ele uma vontade de fazer sem o saber o que. É uma ânsia pelo desconhecido, uma vez que, o que me é conhecido, causa-me fastio. É uma sensação de falta, de incompletude. É uma forte vontade de liberdade de mim mesmo.

Peguei um dos novos trens do Metrô. A temperatura do ar condicionado gela as orelhas e a cabeça raspada. Deixo a caneta solta sobre o pequeno bloco de apontamentos, feito com papel reciclado, a espera dos sentimentos a serem materializados em palavras.

Observo as pessoas desconhecidas, absortas em seus pensamentos. Tento imaginar como serão suas vidas, no que pensam e o que agora sentem. A quentura no peito, com aquela benfazeja sensação de Presença parece querer chegar de mansinho... Aviso falso.

Na porta esquerda, parado, um soldado da Polícia Militar; seu olhar se faz tenso, carregado, diante do meu observar. Nisso, um grupo de adolescentes, com suas vozes altas rompem o solitário silêncio do vagão. Seus assuntos são bem infantis. Duas delas, com sacos de pipocas doces, as engolem em bocados apressados, sem o tempo necessário para o saborear. Não devem ter mais que dezesseis anos e parecem disputar suas certezas. Duas também são as que já apresentam os cabelos descoloridos num loiro desigual. Todas fazem uso de muita gíria e soa bastante estranho vê-las se comunicando com frases iniciadas por “e aí mano”... “então cara”...

Agora faltam duas estações para chegar ao meu destino. Em meio ao meu solitário Vergueiro, desço no Paraíso, ansioso por um momento de Augusta Consolação.

Nelson Jonas

26 abril 2011

Os livros da estante

O livro que somos nós

Numa enorme livraria, por instantes,
Observo o desconteúdo das estantes.
Comuns, conhecidos e idolatrados
São os livros que nos privam.
Raros, desconhecidos e malditos
São os livros que nos livram
Dos apertados nós
Amarrados em nós.

Nelson Jonas

24 abril 2011

Dinheiro não é tudo


Vi uma criança usando uma camiseta com a seguinte frase estampada no peito:

"Dinheiro não é tudo mas é 100%"

Disseram-me que tal camiseta faz parte de uma série vendida por um programa da TV, chamado Pânico. O que parece engraçado, deveria causar pânico. Não creio que uma criança tenha o discernimento necessário para distinguir entre o falso e o verdadeiro (basta ver o incontável número de adultos crianças que consomem 100% de seu tempo - ainda com saúde - na busca do hipervalorizado dinheiro). Se para poucos, já é triste ver a enorme quantidade de sonâmbulos, inebriados pelo desejo de consumo, ávidos pela ânsia do querer, que querendo ou não, aceleradamente os consome, que se dirá da visão da propagação dessa inversão de valores por meio de "pequenos-outdoors" ambulantes?

Vivemos uma era onde, com os alardes da mídia e da tecnologia, a população toma como fato, a ilusão de que dinheiro é tudo. A mídia e a tecnologia incentivam a aceleração, a brevidade e o descarte dos valores. Há o paradoxo de uma tecnologia que se diz a serviço do tempo, onde, na realidade, o real valor do tempo é totalmente desvalorizado. O tempo é desperdiçado em nome de mais tempo e dinheiro. O desfrute do tempo há seu tempo, se dará em incerto tempo futuro, chamado “aposentadoria”. Desperdiça-se o tempo para se terminar num aposento...

Não! A totalidade, não está no dinheiro. E há que se dedicar tempo para o conhecimento e desfrute dessa totalidade. Mas, para isso, ninguém tem tempo, muito menos a ânsia do querer. E, aqueles que dedicam boa parte de seu tempo em busca da consciência dessa totalidade, não são levados a sério, ao contrário, quase sempre são rotulados de modo pejorativo, quando não renegados ao ostracismo. Permitir-se uma vida com mais tempo é sinal de comodismo, de alguém não sério, irresponsável, o que não é fato, visto a tamanha responsabilidade necessária para se levar uma vida com mais tempo a custa de menos dinheiro. Os que são valorizados são aqueles que em nome do dinheiro dedicam a totalidade do seu dia dentro do acelerado ambiente do trabalho, não importando se sobra ou não tempo para o essencial: a vida de relação consigo mesmo, com o próximo e com a natureza. Ser um grande trabalhador proporciona de todos, o respeito, com o qual se disfarça o amargor da inveja pela capacidade alheia de consumo. E ninguém percebe: é o medo que acelera o tempo.

Essa acelerada estrutura que nos rouba o tempo necessário para o desfrute de um qualitativo viver, e nos impõem um estressante existir, foi sedimentada de tal forma, que os poucos que dispõem de tempo, por vezes se sentem culpados, quando não, indignos de respeito. O softer da culpa, antigamente era instalado pela religião e seus dogmas, ou pelos adultos com suas histórias como a “formiga e a cigarra”. Hoje, a culpa pelo bom uso do tempo se faz via a cabo. Somos aceleradas formigas, em caros enlatados num trânsito lento, correndo por todos os lados, nos consumindo por valores rapidamente consumidos pela força psicológica da mídia e da tecnologia. Nosso tempo é tão escasso, que mal temos tempo para ler os manuais de funcionamento daquilo que, a custa de nosso tempo, em prestações consumimos.

Enquanto, por todos os cantos, servindo uma rainha que mal conhecem, formigas proliferam de forma acelerada, as cigarras, com seus cantos, se tornam cada vez mais raras.

Nasci cigarra; não sirvo a Rainha alguma. Morrerei cantando 100% meu direito a vida em liberdade. Isso sim, para mim é tudo.

Nelson Jonas

21 abril 2011

Resposta para um amigo

O lugar

Caro amigo, espero que você esteja vivendo bons momentos!

Como não é segredo para ninguém, é difícil demais abordar questões que tocam os sistemas de crença, sem que acabem em desentendimento, ou seja, sem que os filtros dos medos - que sustentam as crenças -, impeçam a escuta ou a leitura atenta e correta do que o locutor ou escritor tenta explanar. Nestes anos em que, através da escrita, me dedico a expor meu modo de ver o mundo, por várias vezes fui erroneamente rotulado de "estar impondo" minhas observações. Tenho visto que é muito mais fácil criar um rótulo do que observar aquilo pelo qual por anos nos mantemos rotulados. Como sempre digo, não sou o dono da verdade, mas sou responsável por sustentar meu ponto de vista da verdade, até que um ponto maior se apresente diante de mim. Para mim já é um fato: não é a crença que divide, mas sim, o medo. A crença só existe por causa do medo. Quando se entende o  medo, por experiência própria, a crença perde sua razão de ser. Em nome da experiência que liberta e agrega, dispenso a crença que enclausura e divide. E, só por hoje, continuarei a retratar isso em meus textos e conversas. Não há necessidade de desentendimentos, é só uma questão de pegar e aprofundar ou largar e desprezar. Afinal, cada um desce do cavalo do lado que melhor lhe apraz.

Como já disse em outros textos, para mim, a crença é uma influência que a consciência, prensa. A consciência não vem pela crença, mas sim, pela experiência, pessoal e intransferível. Não aceito prato pronto, não tenho nada por sagrado, a não ser o direito que temos de questionar tudo, de observar tudo e de fazer bom uso do que vemos até que o mesmo se mostre apto ao desuso. Como disse um amigo, um foguete não pode alcançar voos mais altos enquanto mantem em si, partes que já cumpriram em seu devido tempo, sua função. Pode soar como arrogância, mas, para mim, a crença é para os infantis. os adultos querem o alimento sólido da experiência. 

Vejo como uma visão equivocada de sua parte, afirmar que uma pessoa querer apontar uma ótica diferente sobre aquilo que outros tem por sagrado, seja uma tentativa de inferiorizar. Penso que não tenho o direito de, no ambiente físico e psicológico em que se tem algo por sagrado, querer colocar minha visão. Isso seria como um estupro psicológico. Mas, em meu espaço, feito para pessoas psicológicamente adultas, posso e devo. Se alguém vem até esse espaço, é um sinal de que talvez esteja buscando por outros tipos de resposta (algo parecido com: quem é vegetariano, não busca nutrição em churrascaria). 

Outro fato que levo em conta: quem deu o poder de dizer o que é ou não sagrado? Por que sua escrita, a minha escrita ou a de outra pessoa não pode ser sagrada? Vou um pouco mais fundo: o que é sagrado? Para mim, sagrado é o que se apresenta momento a momento, atemporal, e não aquilo limitado por letras e simbolos limitados ao tempo e espaço. Eu respeito o direito que as pessoas tem de querer "seguir", de optarem por não serem um "desbravador de si mesmo", por preferirem ser pessoas de 2ª mão ao insistirem em se moldar a experiência imposta (como sagrado) que advém de terceiros. Mas não aceito isso para mim. Não sou pássaro de gaiola. Eu quero poder escorregar quantas vezes for necessário para poder apreender por mim. Não quero que me cantem o caminho. Quero fazer e ser o meu caminho e não vejo ofensa em partilhar a diferença do que vejo nesse caminho. A ofensa e a intolerância não está na palavra, mas sim no medo que cria as mais variadas formas de crença que impedem a clareza do ver a beleza que se esconde em meio as palavras. É aí que reside toda forma de irracionalidade e insanidade humana. 

Caro amigo, finalizo afirmando que, expressar não é impor. Ao contrário: impor que, o modo com que alguém se expressa seja uma imposição, isso sim, para mim, é uma imposição. E nos vários livros não sagrados vê-se que, muita gente boa, em nome do "sagrado" foi silenciada dessa forma. 

Um abraço em seu coração.

Seu sempre irmão e amigo,

Nelson Jonas   

20 abril 2011

Automatismo absurdo

Say No to Telemarketing!

11:50 h. O telefone toca...
- Alô.
- Pois não?
- O Sr. Nelzio, por favor.
- Lamento, mas ele faleceu.
- Faleceu? Ah, tá bom!
- Tá bom?
- (.......)
(tototototototototo....)....

Nelson Jonas

19 abril 2011

Confraria dos adormecidos

how turn on Fuck and be happy

Onde estão aqueles apaixonados pela Vida a ponto de defendê-la com a própria existência?

Onde estão aqueles dotados de real entusiasmo?

Onde estão aqueles realmente vivos enquanto vivos?

Onde estão aqueles dedicados na busca do sentido cósmico de sua existência, bem como com a descoberta de seus talentos, potenciais e sua maximização, ao invés do conformismo e a estagnação mediocrizante?

Onde estão aqueles que em nome da liberdade enfrentam suas inseguranças e medos herdados da nefasta cultura recebida?

Onde estão aqueles que ousam mergulhar na profundidade de seu ser a fim de se elevarem em consciência para depois entregá-la em favor da elevação da consciência da raça humana?

Onde estão aqueles dedicados à busca de sabedoria ao invés do acumulo de conhecimentos mecanicistas afirmados por títulos rubricados com estampilhas coloridas?

Onde estão aqueles preocupados com o sentido de sua passagem nesta terra e com o conteúdo e qualidade da herança que deixarão para as futuras gerações?

Onde estão aqueles que sabem que o tempo é o nosso bem mais precioso, ao contrário do dinheiro?

Onde estão aqueles dedicados em servir a vida e não a consumação da mesma?

Onde estão aqueles amantes da verdade, livres da vergonha tóxica e do medo do desnudamento de sua sombra?

Onde estão aqueles dedicados a consolidação da urgente ressurreição em vida, por meio do descondicionamento de suas células cerebrais e do silenciamento de suas eufóricas memórias?

Onde estão aqueles dispostos a abraçar a trilha menos percorrida do desvendamento da visão, ao invés das largas avenidas de concreto armado para o embotamento da mesma?

Onde?

Nelson Jonas

18 abril 2011

Constatações sobre saúde

O lavador de cérebros

Os esforços pela saúde física nunca estiveram tão em alta como nos dias de hoje, 
assim como, nunca estiveram tão em baixa, os esforços pela saúde ética.

Nelson Jonas

13 abril 2011

Consumose

Escravos do Tempo

Muitos de nós, por se encontrarem hipnotizados pela falácia do dito popular, “tempo é dinheiro”, permanecem vendados para o fato de que, quanto mais aumenta nosso poder de compra, mais diminui nossa capacidade de não se vender. Hoje, há uma grande disparidade de valores, onde, no lugar do tempo, o dinheiro é o mais importante. Em nome do que erroneamente chamam de “bens” de consumo, muitos, semanalmente se consomem numa não discutida insana carga horária de trabalho, em pesados e pressionados ambientes e em apertados e estressantes meios de transporte. Estes, de tal forma se deixam sobrecarregar de acelerados compromissos, na maioria das vezes vendidos a baixos salários, que se permitem o distanciamento do conhecimento das múltiplas possibilidades resultantes do ócio criativo. E assim vão levando uma existência sem vida até serem consumidos de vez por um “súbito e fulminante ataque cardíaco”, gerado por anos e anos de um viver mecânico e inconseqüente. E boa parte dos que sobrevivem até o período da aposentadoria, morrem lentamente, enquanto apertam o controle da TV de última tecnologia, comprada em longas prestações, assistindo a reprise das novelas populares ou os comentários dos últimos resultados do time do seu coração.

Nelson Jonas

12 abril 2011

Empresa e população Sociedade Anônima

 
Recebi um e-mail contendo em anexo, as fotos abaixo (diga-se a tempo, sem o devido crédito ao fotógrafo das mesmas - se souber, por favor, me avise). O texto do e-mail responsabilizava tamanha desumanidade, ocorrida à margem esquerda do Rio Solimões, ao movimento MST. Confesso que não me preocupei em saber sobre a veracidade dos fatos e se o mesmo não poderia ser mais um daqueles e-mails políticos, onde sempre existe uma velada segunda intenção exploradora. Para mim, pouco importa se o triste ocorrido está ou não coligado a tal entidade. O que importa são os fatos evidenciados pelas fotos: que a eliminação das espécies, por falta de bom-senso,  continua ocorrendo, seja em grande ou em pequeno porte. Isso serve para validar meu comentário feito outro dia, referente a um excelente vídeo postado no YouTube, onde o entrevistado aponta os donos das grandes corporações pela atual e acelerada destruição do planeta. Em meu comentário, afirmei que isso ocorre por parte de ambos "associados": empresas e população sociedade anônima. É uma simbiose doentia e um não pode sobreviver sem o outro, afinal, toda empresa nasce da idéia de alguém que vem do povo e que usa a consumidora e inconsequente vontade voraz do povo em nome da igual vontade doentia de quem teve a idéia. Um se alimenta do outro. É o samba do cachorro louco correndo atrás do próprio rabo.


Não acredito em revolução de consciência em massa; isso é coisa de esquerda festiva. Para mim, o lance é individual: ascender a própria chama da percepção e mantê-la sempre acesa; agir localmente pensando globalmente. 

As fotos mostram bem que, infelizmente, entre a edificação da consciência/caráter e a satisfação dos instintos degenerados pela ação da hereditária cultura insana com seus variados mecanismos de embotamento, a edificação da consciência/caráter apodrece mais rápido do que as carcaças das tartarugas mortas apresentadas nas fotos abaixo. Não se pode culpar apenas uma classe pelos absurdos correntes, criando a falsa idéia de vitimas e vitimizadores. Todos fazemos parte, seja de forma direta ou indireta. Talvez, nossa omissão seja tão fatal como a lâmina na mão do carrasco.

Nelson Jonas   

 
 
 
 
 
 

11 abril 2011

Folhas ao vento

zulai32

Assim disse o finado poeta, cavaleiro da esperança:


"Eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia, um lugar que me dê trégua ou me sorria, uma gente que não viva só pra si. Só encontro, gente amarga mergulhada no passado, procurando repartir seu mundo errado nessa vida sem amor que eu aprendi."

Assim como Taiguara, há muito deixei de buscar paz e segurança em lugares distante de mim. A frustrada busca de anos e anos me fez perceber, que segurança não existe e que a paz que procuro não pode ser encontrada nas amareladas páginas dos raros livros de sebos, nas coloridas e sonoras páginas da Internet, na festiva militância política ou religiosa, ou em transitórias conquistas materiais e românticas, que depois de "conquistadas" nos cativam com pesados fardos de compromissos. Percebi com profunda nitidez que nossas posses nos possuem e que a segurança é só para os inseguros: constantes prisioneiros de inconfessáveis e disfarçados medos e sofrimentos. Em tempo percebi que esse acumulo de compromissos nos priva da preciosidade do tempo, sem o qual, por falta de percepção, nada de qualitativo e criativo se manifesta: apenas a estafante rotina, da qual, em silencioso desespero, tentamos fugir em nossos curtos, congestionados e caríssimos finais de semana. Os raros momentos de paz que sinto, frutos dessa percepção, ainda não se sustentam, porque não estou pronto: sei que inconscientes condicionamentos ainda me distanciam do desfrute de uma vida em verdadeira plenitude e, ciente disso, me observo. Mesmo assim, com aqueles que se apresentam próximos, tento compartilhar da beleza desse raro sentimento que não tem causa. Mas, infelizmente, parece que todos não tem tempo, muito menos interesse: estão por demais ocupados, vivendo exclusivamente para si, sempre prisioneiros de equivocados desejos temporários. É triste perceber a realidade que se apresenta: quem não descobriu, em si mesmo, sumo, sempre acaba apelando para o ilusório consumo. Nossos antepassados irmãos escravizados, um dia ganharam a tão sonhada carta de alforria. No entanto, com o apoio da rede de ensino e da televisão, de seus escravocratas, além da carta de alforria, ganharam também carteiras assinadas, cartão de ponto, cartões de crédito, carnês diversos, apólices de seguros, cursos, diplomas e títulos escravagistas. Hoje, as pesadas algemas não mais são de ferro: quando não são de rubricados e coloridos papéis, são virtuais ou emocionais, sempre baseadas em valores destituídos de real valor.

Hoje, pela manhã, enquanto varria do quintal as folhas secas carregadas pelo vento, pensei comigo: o que seria da árvore se insistisse em carregar consigo suas velhas e ressecadas folhas? De fato, o que mais encontro é gente amarga mergulhada no passado. Grande parte dessa gente, hoje fisicamente adultas, sofrem de aguda imaturidade emocional por insistirem em carregar na mente e coração, arcaicos e disfuncionais conceitos, além de pesados e ressecados ressentimentos dos tempos da infância ou adolescência, os quais turvam sua visão de mundo, infectando a possibilidade de autênticos e nutritivos relacionamentos. Suas falas, nunca apresentam o novo, pois estão presas no antigo. Se não fosse o passado, certamente permaneceriam caladas, o que talvez, para elas, seria uma benção, pois poderiam se deparar com algo novo dentro de si. Como não se calam, delas, o novo já nasce velho. Do mesmo modo que não consigo contar a quantidade de folhas secas levadas pela ação do vento, gente sem conta, pelas ruas, são levadas pela preocupação com suas pesadas contas, a ponto que mais nada conta. Suas almas foram hipotecadas em nome da manutenção das exigências, resultantes da inconsciente identificação com o sistema. Como resultado, perderam a flexibilidade e a leveza do Ser que as faz ser: estão sempre tensas, precavidas, desconfiadas, sem a mínima possibilidade de se relacionar de forma livre e solta. Devido seus velados julgamentos, mentiras, meias verdades e medições, estão sempre estafadas, sem energia, sendo que a pouca que lhes sobra, está sempre truncada, sem fluidez. Por serem prisioneiras de seus medos e de suas internas contradições, as manifestações e palavras que pensam ser Amor, são tão válidas como um cheque sem fundo. E o pior dos pecados: com o peito cheio de orgulho parental e varonil, insistem em perpetuar com as novas gerações, o mundo errado, herdado de seus ancestrais. E, desse modo, feito folhas perdidas ao vento, sem direção partem as mentes das futuras gerações de escravos.

Nelson Jonas


07 abril 2011

Comentário para um confrade on-line

Controle

Caro Eduardo, paz e bem! Valeu pelo texto "Correntes de mentiras"...

"É o consentimento geral o que sustenta essa estrutura. A crença nas mentiras plantadas."
(Eduardo Marinho)

Optar pelo mais fácil e cômodo, por não requerer ação, sempre foi a opção coletiva. Seu texto retrata não só a condição da modernidade, mas, a história humana. Um aqui, outro ali, conseguem arrebentar as pesadas correntes e, após isso, tentam conscientizar os demais (e ao fazerem isso, vão se libertando cada vez mais). Mas, infelizmente, entre a escolha pela edificação do caráter e a corruptível busca pelo conforto estagnante e pela satisfação dos sentidos desorientados pela mídia, a edificação do caráter se perde com facilidade. E o resultado dessa infeliz escolha se apresenta em cada página da história humana. Várias vozes já lançaram ao mundo, gritos de alerta, entre eles, Abraham Maslow:

"Se você deliberadamente planejar ser menos do que você é capaz de ser, eu lhe aviso que você será profundamente infeliz."

E o que mais se vê é um povo mascarando e narcotizando sua inconfessável infelicidade, com os mais variados tipos de festas, práticas esportivas, religiosas e espiritualistas, incentivadas por aqueles que controlam as rédeas públicas. É o circo voador da infelicidade humana sempre pedindo passagem...

Mas onde estão aqueles que ousam pela originalidade? É bem mais cômodo assistir e sonhar ser, do que ser. É mais fácil ler do que escrever. É mais fácil disseminar as idéias alheias do que as próprias percepções. É mais fácil criticar do que se arriscar... Ninguém quer dar a cara para bater. Mas, para obter a coragem de dar a cara para bater, é preciso antes, estar farto de apanhar. E os poucos fartos, com textos como o seu, solitariamente se perguntam:

- Até quando você vai ficar sem fazer nada? Até quando vai ser saco da pancada midiática?

Um forte fraterabraço!

PS - Comentário sobre o texto "Correntes de mentiras", de Eduardo Marinho

06 abril 2011

Espiritualidade Virtual

Perdendo a cabeça

Se tem uma coisa que não suporto é o atual “blá- blá-bês espiritualista de prateleira” que hoje se apresenta na internet, em especial naquilo que chamam de “redes de relacionamento” (só pode ser piada chamar isso de relacionamento). O que mais vejo é uma espécie de “second life”, onde todos só mostram um excelente e bem polido lado A, onde todo comportamento e idéias postadas, configuram uma postura de amorosidade, compaixão e preocupação com o próximo, da qual duvido muito, pois me soam profundamente falsos... Quando não se apresenta uma coleção de certezas emprestadas, deparo-me com uma verborréia dotada de originalidade zero... Parece até que ninguém tem dúvidas e questionamentos, que os mesmos, já nasceram prontos. E com isso, gurus da Second Life, com seus “segredos” e “receitas", (muitas delas extraídas de coleções de PPS), proliferam. Nessas redes de “relacionamento” de no máximo três ou quatro linhas, ou limitados 140 caracteres, tudo é bonitinho e em perfeito equilíbrio (se passar de cinco linhas, pode ter certeza que o conteúdo é fruto do ctrl c + ctrl v).

Minha finada avó dizia:

- “Por fora bela viola, por dentro, pão bolorento”.

Se estivesse viva, talvez dissesse:

- “No facebook bela amorosa, na face a face fera raivosa”.

Se pudéssemos ver o lado B dos gurus da Second Life, com certeza, encontraríamos uma vasta coleção de estagnantes conformismos produtores de inconfessáveis sofrimentos, sempre mantidos longe da própria consciência com coloridas máscaras narcísicas. É como no mundo da fotografia de moda:

“É tudo pose e sorrisos de photoshop; revelar o negativo é só para o fotógrafo”.

E na cadência acelerada da virtualidade, a realidade da virtude, aceleradamente vai à decadência.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!