Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 março 2008

O mundo dos desmirados

Já estávamos a uns 15 minutos aguardando pelo nosso pedido numa casa de espetinhos próxima de nossa residência, quando na portaria avistamos dois casais de conhecidos nossos. De imediato, acenei para que viessem se sentar conosco. Plínio, o mais velho entre eles, acabara de chegar de sua primeira viagem internacional motivada por "business" percorrendo os países China, Líbano e Emirados Árabes; pensei que com certeza deveria ter muitas coisas interessantes para falar a respeito do povo e da cultura daquela região. Este, quando nos viu com aquele par de olhos azuis, abriu seu sorriso e fazendo sinal para o garçom, dirigiu-se para nossa mesa. A casa estava bastante cheia, o que fez com que eles tivessem que esperar alguns momentos para que o garçom pudesse preparar mais uma mesa junto a nós. Assim que eles se aproximaram, um dos garçons chegou trazendo uma travessa de bolinhos de mandioca, os quais saboreamos enquanto aguardávamos pela colocação das mesas e cadeiras. Já acomodados, tive a impressão de que sua esposa não havia ficado muito contente por nos encontrarmos ali, uma vez que mantinha seu olhar bastante fechado e na boa parte do tempo direcionado para outros ambientes da casa. Passado vários minutos e sentindo-me incomodado com sua postura, tratei de fazer uma brincadeira para ver se ela "aterrizava" ali em nossa mesa:
- Então, você ainda não chegou aqui? Está olhando para a portaria para conferir o momento em que você chega?
Ela limitou-se a levar a mão ao cabelo e dar um rápido sorriso forçado. Durante o resto da noite, quase não dirigiu a palavra e as poucas, em voz baixa, eram para recriminar os erros de português da fala de seu marido, um comportamento bem típico de mulheres e homens que vivem a frustração de relacionamentos fracassados, passando a expor as limitações do cônjuge diante de terceiros. Mas, minha brincadeira foi logo interrompida pelo garçom que desta vez trazia uma tábua com kaftas, acompanhadas pelo molho de alho, vinagrete e fatias de pães, além de duas cervejas bem geladas. Enquanto preparava um pequeno sanduíche para Deca, dirigindo-me para Plínio, exclamei:
- Pois então, conte-nos como foi sua viagem!
- Cara, demais! Foi um grande aprendizado. Valeu tanto quanto uma boa faculdade. Só tenho uma palavra: Show!
- Fora a questão da dificuldade de se comer na China, o que mais te impressionou por lá?
- Sim, realmente, a comida de lá é terrível além de ser absurdamente apimentada... É muita gente! A China é um país que está em expansão acelerada. Todos querem ter sua própria empresa e ampliar suas economias, aqueles que têm uma visão maior já estão conseguindo obter sucesso. Para isso, eles trabalham muito, de domingo a domingo e fazem apenas meia hora de almoço. São extremamente metódicos, diretos, objetivos. Lá não existe esse modo descontraído de ser do povo brasileiro. Para você ter uma idéia, as grandes fábricas constroem aposentos para os funcionários, bem próximos das instalações das mesmas. Eles trabalham muito e as fábricas não param um só minuto. Lá é pauleira, não é que nem aqui não; não tem como fazer corpo mole. Interessante é que quem está na frente das mesas de negociação são jovens entre 25 e 30 anos, pelo fato de terem um inglês bem fluente – os mais velhos, devido ao antigo regime não tiveram acesso a língua. Mas, o que realmente me impressionou muito foi o respeito que eles mantém pela tradição, principalmente no Líbano.
- Mas Plínio, isso que você chama de respeito, na realidade não seria medo?
- Respeito! – respondeu-me enfaticamente.
- Talvez eu possa estar enganado, mas penso que aquele modo de vida não possa ser qualificado como sendo respeito, mas sim, medo e repressão, uma vez que eles adotam políticas extremamente severas com quem os "desrespeita", sendo muitas delas, a meu ver, um tanto pré-históricas. Em nome do fanatismo religioso todos os dias vêem-se atitudes absurdamente desrespeitosas para com os seres humanos que desrespeitam a tradição. Não é por menos que boa parte dos que fazem parte desses povos são pessoas "altamente explosivas", isso quando não são verdadeiramente "homens bombas".
- Não sei, prefiro achar que seja respeito, pelo menos foi isso que eu senti, principalmente no pequeno vilarejo no interior de Trípoli onde fiquei hospedado no Líbano. Confesso que é um pouco assustadora a realidade do exército pelas ruas, com seus homens fardados carregando pesadas armas com poder de fogo para derrubar aviões... Tinham armas cujas balas mediam quase que um palmo de mão bem esticada. Já na China, fiquei em Xangai, uma cidade tipicamente industrial, uma cidade de negócios que lembra muito São Paulo. Só agora é que a população chinesa está despertando para o "poder de consumo". Lá vai ser um grande centro de negócios, uma vez que só para poder alimentar a fome de consumo da população local, haja comércio para atender uma média de 18.000.000 de pessoas. Lá corre muito dinheiro, mas nada comparado com o que vi nos Emirados Árabes... Lá sim a riqueza é faraônica, só mesmo vendo para acreditar. Prédio de 165 andares, pista de esqui com neve, teleférico e tudo mais bem no meio do deserto... Tudo lá é impecável e de última geração, até mesmo os táxis. Se quiser saber, eu mesmo senti inveja dos taxistas locais: carros importados de última geração, com banco de couro e ar condicionado, trabalhando em ruas com asfalto melhor do que a Rodovia Bandeirantes, sem semáforos e ainda ganhando gorjeta em dólar. Lá não tem essa pobreza que aqui absurdamente chamam de "carro popular". Lá é uma cidade movida pelo turismo para magnatas. É outro mundo, um luxo só. Você fica besta de ver tanta riqueza por toda parte, chega a dar raiva da vida que levamos aqui. Lá, o complexo hoteleiro de luxo é uma coisa realmente faraônica, com mega-estruturas e arranha-céus por todos os lados. Para onde quer que você olhe, encontra sempre uma grua.
- O que é isso, grua?
- São aqueles guindastes enormes sobre o topo dos edifícios.
- Ah, Sim!
- Você fica pasmo de ver a concentração de dinheiro que existe naquela região. Só para você ter uma idéia, eles possuem um estoque de petróleo para mais de 100 anos. Tem idéia do que isso representa em números? Imagine o valor financeiro disso considerando os atuais U$105,00 pagos por um barril de petróleo!... Cara, é muito, mas muito dinheiro. Fora o que aprendi lá em termos de visão mercantil, acabei me divertindo muito. Meu patrão tem a preocupação de me ver ampliando a visão, quer que eu tenha uma macro-visão para que possamos ampliar as fronteiras comerciais. Já está tudo bem programado: a meta deste ano é ampliação de visão. Só para você ter idéia, ainda este ano, devo voltar para a China, conhecer o comércio espanhol e participar de uma feira na Alemanha... E já temos planos para no próximo ano conhecer melhor as possibilidades na Austrália.
- Sei!...
Enquanto ele, empolgadamente relatava a beleza artificial do mundo criado pelos petrodólares, inacessível para a maior parte da população global, silenciosamente eu observava os pensamentos, palavras e símbolos que insistiam em passar pela minha mente de forma acelerada e sem o menor esforço de minha parte: "Macro-visão comercial, escravidão branca formatada numa jornada de trabalho de domingo à domingo explorada sempre com baixos salários, concentração egocêntrica de renda, ostentações faraônicas, fanatismo religioso com seu apego à tradição ritualística e aos seus dogmas que roubam a espontaneidade, originalidade e individualidade do ser humano, que insiste em manter a desigualdade e a exploração do chamado sexo frágil, a banalização diante do absurdo fato de crianças de armas na mão e por aí vai...
Confesso que estava bastante feliz por Plínio estar conseguindo realizar algo que para ele - assim como para os outros que estavam naquelas mesas -, com exceção de Deca, ainda possui profundo significado e sentido. No entanto, para nós, confesso que nada significam, são valores de vitrine, que do mesmo modo que os antigos castelos medievais, outrora poderosos, estão fadados aos museus de um passado morto. Por um momento cheguei a me questionar se o meu total desinteresse por aquela realidade apresentada não estaria sendo motivado por inveja. No entanto, após profunda meditação, digo de coração aberto que não. De modo algum invejo esses valores pois, de nenhum modo, ao chegar meu momento de dar o pulo para fora deste planeta os poderei levar comigo. Não invejo essa preocupação pela aquisição de uma "macro-visão" comercial, uma vez que o que se vê é que a mesma acaba construindo uma imensa parede, muito maior que os enormes arranha-céus de Dubai, a qual impede a manifestação de uma mínima "micro-visão interior". Se por um lado fiquei feliz por ele, por outro fiquei bastante triste por constatar que a cada dia que passa, nossa macro-visão e sentido de vida se distancia cada vez mais. A superficialidade desse mundo emirado nunca fez e nunca fará parte da minha mira.

Transcrição do discurso de Severn Cullis-Suzuki, de junho de 1992:

"Olá! Eu sou Severn Suzuki. Represento, aqui na ECO, a Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 e 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir. Vanessa Sultie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu. Foi através de muito empenho e dedicação que conseguimos o dinheiro necessário para virmos de tão longe, para dizer a vocês, adultos, que têm que mudar o seu modo de agir.

Ao vir aqui, hoje, não preciso disfarçar meu objetivo: estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados!

Eu tenho medo de tomar sol, por causa dos buracos na camada de ozônio. Eu tenho medo de respirar este ar, porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando. Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que, recentemente, pescamos um peixe com câncer. E, agora, temos o conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e extintos dia após dia.

Eu sempre sonhei em ver grandes manadas de animais selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas. E, hoje, eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso. Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade?

Tudo isso acontece bem diante dos nossos olhos e, mesmo assim, continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções. Sou apenas uma criança e não tenho todas as soluções; mas, quero que saibam que vocês também não as têm.

Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio. Vocês não sabem como salvar os peixes das águas poluídas. Vocês não podem ressuscitar os animais extintos. E vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram onde hoje há desertos. Se vocês não podem recuperar nada disso, por favor, parem de destruir!

Aqui, vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos; mas, na verdade, vocês são mães e pais, irmãs e irmãos, tias e tios. E todos, também, são filhos.

Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas; e que, ao todo, somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade.

Sou apenas uma criança, mas sei que esses problemas atingem a todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único mundo rumo a um único objetivo. Estou com raiva, não estou cega e não tenho medo de dizer ao mundo como me sinto.

No meu país, geramos tanto desperdício! Compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora... E nós, países do Norte, não compartilhamos com os que precisam. Mesmo quando temos mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las. No Canadá, temos uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV.

Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou: "Eu gostaria de ser rica; e, se o fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho". Se uma criança de rua, que nada tem, ainda deseja compartilhar, por que nós, que tudo temos, somos ainda tão mesquinhos?

Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio. Eu poderia ser uma criança faminta da Somália, ou uma vítima da guerra no Oriente Médio; ou, ainda, uma mendiga na Índia.

Sou apenas uma criança; mas, ainda assim, sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso a Terra seria!

Na escola, desde o jardim da infância, vocês nos ensinaram a sermos bem-comportados. Vocês nos ensinaram a não brigar com as outras crianças, a resolver as coisas da melhor maneira, a respeitar os outros, a arrumar nossas bagunças, a não maltratar outras criaturas, a dividir e a não sermos mesquinhos. Então por que vocês fazem justamente o que nos ensinaram a não fazer?

Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências e para quem vocês estão fazendo isso. Vejam-nos como seus próprios filhos. Vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer. Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes: "Tudo vai ficar bem, estamos fazendo o melhor que podemos, não é o fim do mundo". Mas, não acredito que possam nos dizer isso. Nós estamos em suas listas de prioridades?

Meu pai sempre diz: "Você é aquilo que faz, não o que você diz". Bem... O que vocês fazem, nos faz chorar à noite.Vocês, adultos, dizem que nos amam... Eu desafio vocês: por favor, façam com que suas ações reflitam as suas palavras.

Obrigada!"

28 março 2008

Um gaiteiro que canta bem, mas não entoa

Foram necessários apenas 10 minutos de forte chuva de granizo para que, o dia seguinte amanhecesse com a rua, calçadas, sarjetas e quintais repletos de pequeninas folhas ainda bem verdinhas. Depois de um fim de tarde como o de ontem, o dia parece muito mais vivo, colorido, rejuvenescido, com suas plantas, flores, e gramas – apesar da surra do granizo -, muito mais eretas, como se em sinal de agradecimento pelo frescor proporcionado pela água da chuva. Agora são 12h50min e o azul celeste está tão vivo que chega a doer os olhos e o calor parece fazer o asfalto tremer e derreter.
Do outro lado da rua, duas balconistas da agência do correio caminham vagarosamente, desfrutando os poucos minutos restantes do horário de folga do almoço, com o doce sabor dos sorvetes de palito, desses vendidos de porta em porta em pequenos e coloridos carrinhos de mão.
Para um inicio de tarde de sexta-feira, o tráfego de carros bem como de pedestres, apresenta-se bastante reduzido em vista do normotizado movimento da semana.
Na entrada do salão, encostado na recente porta de vidro, observando o movimento ao mesmo tempo em que toca uma pequena gaita de bolso, um jovem cliente do cabeleireiro vizinho aguarda a sua vez. Ao observar há poucos metros a bela jovem dos longos cabelos castanhos, virou-se para mim com sorriso malicioso e exclamou:
- Com este sol, tocando esta gaita e vendo o corpo desta princesa que vem vindo, sinto-me o próprio Vinicius de Moraes.
- Por quê? – Perguntei-lhe sorrindo quase que antevendo sua resposta.
- Ah! Se ela soubesse que quando ela passa a Zunkeller inteirinha se enche de graça... – respondeu-me melodicamente e com muito mais ênfase bem no instante em que ela por nós passava.
Dando um breve momento para que ela se afasta-se um pouco, com o intuito de não ouvir o meu retorno, lhe respondi:
- Você tem toda razão, é realmente uma bela jovem.
- Bonita e gostosa demais! – Respondeu-me com um olhar de consumo fixado em sua silueta cadenciada, ao mesmo tempo em que, com uma das mãos, massageava levemente a própria genitália.
- Cuidado, meu irmão! Cuidado!
- Cuidado por quê?
- Porque muitas vezes, aquilo que a primeira vista se mostra gostoso aos olhos, com tempo, pode acabar se mostrando insuportavelmente amargo para o coração... A realidade do ser é invisível aos olhos; não se encontra na estética da pele e do olhar, muito menos na formosura das curvas de um corpo de academia.
Ele deu um rápido sorriso, deixando transparecer sua vergonha, virou-se para o outro lado e novamente com sua gaita voltou a entoar seus hinos e melodias gospel.



Eu, etiqueta

Fernando Pessoa

26 março 2008

Generais dos generalizadores

Fico me questionando o porquê de para algumas pessoas, o fato de alguém fazer generalizações durante seus "monólogos terapêuticos", lhes causa tanta repulsa interior. Por que quando as mesmas ouvem alguém se expressando através das palavras "a gente" ou "nós", são tomadas pela inquietação? Por que insistem tanto para que as pessoas se expressem usando o termo "eu"?... Se a palavra é apenas um símbolo que aponta para um simbolizado – e nunca é o simbolizado -, por que estas pessoas dão tanta importância à forma como a palavra é usada, ao invés de fazerem a leitura do espírito que move essas palavras?...
Penso que parte das respostas possa estar nas entrelinhas das palavras de Stefano Elio D'Anna, extraídas de seu livro "A Escola dos Deuses":
"...Como você se permite dizer "eu"?... No meu mundo, dizer eu é uma blasfêmia.
Eu é a divisão que você carrega dentro de si... Eu é a sua multidão de mentiras... Cada vez que você declara um desses pequenos eus, você está mentindo.
Pode dizer somente eu somente quem conhece a si mesmo, é dono da própria vida... Quem possui uma vontade... Vá ver quem você é. Descobrirá que os outros são a imagem refletida da mentira que você carrega, da penhora moral, da sua ignorância... Renda-se ao seu mundo. Vá e aceite conscientemente aquilo que você criou, um mundo rígido, ignorante... Sem vida... Você é um fragmento à deriva no Universo... Somente assim poderá reunir os pedaços dispersos da sua existência..."
Bem há tempo: só por hoje, ainda sou também uma dessas pessoas.

24 março 2008

Zumbigoidia

Existem pessoas que acabam se afastando dos demais para não serem conhecidas pelas mesmas e muito menos por si mesmas. Por que essa estranha mania de querer estar sempre no controle das situações em que se encontram envolvidas? Por que essa alergia ao estado de vulnerabilidade? Por que esse medo de se aventurar no aberto? Por que esse medo de se abrirem para uma verdadeira relação?

Zumbigóide


Um zumbigóide é aquele que vai ao velório e quer chamar mais atenção do que aquele que está sendo velado.

Nas corredeiras do ser que sou



Pisciano que sou
Feito salmão solitário
Atravesso este percurso
De espaço e tempo
Em constante esforço
Contra as fortes correntezas
Do profundo e traiçoeiro rio
Da inconsciência humana.


21 março 2008

Dispersão

Seguir
O que diz
O pensar
Dispersa
O que diz
O sentir.

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Encruzilhada


Caminhos
Caminhos por Nelson Jonas


Há caminhos
Por demais traçados
Que aos poucos
Nos paralisam.
Há caminhos
Não traçados
Em que poucos
Se realizam.

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Anos Dourados

Vivi muitos anos
Nos enganos
Dos restos que me impuseram.
Não permito mais danos
No resto dos anos
Que os anos me derem.

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20 março 2008

Feliz Páscoa

- Boa Páscoa e que Deus lhe abençoe e a toda sua família!
Disse-me com um largo sorriso a obesa senhora que em quase todas as manhãs, com passos lentos, olhar vago e distraído, passa por mim sem ao menos notar minha presença.
Limitei-me a lhe responder com um sorriso fraterno. Mal sabe ela que tanto a palavra "páscoa" como a palavra "deus", para mim nada mais representam; são apenas palavras antigas soltas ao vento e que revelam muito de um secular condicionamento:
Uma incontável massa de semi-vivos "comendorando" a ressurreição de quem, para mim, ainda que belo, é somente mais um mito.



18 março 2008

Nos embalos do cotidiano

Sua barba estava mal feita e seu corpo permanecia exprimido no canto direito do banco, com seu ombro encostado ao batente da janela. Seus polegares, freneticamente disparavam contra as teclas do aparelho de celular cujas luzes eram de um azul hipnótico. Seus dentes, aceleradamente mascavam um pequeno chiclete. É bem provável que o jovem rapaz tenha sérios problemas de dentição, visto que mascava somente do lado esquerdo de sua boca. Com exceção do balançar negativo de sua cabeça, por ocasião de algum erro cometido durante o jogo, seu corpo todo parecia estar petrificado. Com o olhar fixo no visor, o arcado rapaz, raramente piscava. Ele, com o olhar fixo no celular enquanto vários outros com os olhares perdidos, fixos em algum lugar de seus pensamentos. Alguns poucos dormiam sem parecer se importar com o imenso ruído dos vagões sobre os trilhos por ocasião dos túneis mais longos. Em cada estação, ocorria um enorme entra e sai de personagens, enquanto o enredo permanecia o mesmo.
Ao soar do aviso da estação terminal, todos se levantaram, aglomerando-se junto às portas do vagão, feito corredores esperando pelo inicio da maratona. As portas se abriram e a massa apressada de autômatos silenciosos disparou pelos corredores repletos de anúncios, em direção às longas filas dos ônibus no terminal. O arcado rapaz, ainda com o chiclete, nem mesmo nas escadarias desviou seu o olhar do visor colorido de seu celular. Alguns poucos fizeram uma rápida parada junto ao carrinho de pipocas, de onde um forte cheiro de bacon frito espalhava-se pelo ar.
A estação chegou ao seu fim, mas não o jogo. Seja sentado a tudo assistindo, ou seja, se anestesiando, com certeza, todos com a mesma alegria contagiante de uma entalhada peça de xadrez, amanhã repetirão o mesmo jogo. Quem sabe, até o dia em que se deparem com o aviso final de cheque-mate e então se dêem conta de que por anos e anos permaneceram neste estúpido jogo sem ao menos saberem contra quem e pelo que jogavam.

12 março 2008

CALE-SE

Como viver a vida condicionada
Com tanta dor e entediante labuta
Se a felicidade que me é de direito
É-me impedida pela mente astuta.

De que me vale uma mente insana
Aprisionada dentro do sistema
Se esta me impede ver o que é beleza
Só correria e violência bruta.

Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Mesmo que por breve instante.

Como é difícil estar entusiasmado
Se a todo lado tudo é tão insano
Quero abrir-me ao novo ente humano
Que é uma maneira de ser ressuscitado.

Esse esforço todo me atordoa
E atordoado permaneço atento
E só na chama do descontentamento
Pode emergir minha real pessoa.

Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Mesmo que por breve instante.

Há muito tempo o tempo já não conta
Conhecimento há muito não importa
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa inquietude presa na garganta.

Nesse deserto impérico do mundo
De que adianta buscar sanidade
Por todo todo lado a mesma estrutura
Mantendo as mentes na irrealidade.

Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Pai, faz com que minha mente se cale
Mesmo que por breve instante.

Talvez o mundo não seja só tédio
E nem sejam os dias de papos mesmerizados
Quero despertar o meu próprio recado
E fecundar de vez minha existência
Quero abrir de vez minha cabeça
Em minha cabeça dissolver prejuízos
Quero sondar os sons do Inaudível
Ser um com ele ao realizá-lo.

* PAI – Principio Absolutamente Inteligente


Venda periódica

À espera de seu primeiro cliente, como em todas as manhãs, lá está ele, em sua barbearia, folheando as repetitivas manchetes do jornal, sempre mascaradas com a superficialidade dos sorrisos das "famosidades" do momento e mais um tanto de imagens femininas siliconadas. Olhando para o tamanho de sua barriga - em vista de seu corpo mirrado -, presumo que essa deve ser uma das maneiras com a qual espanta o vazio matinal de sua existência.

É impressionante a constatação do quanto é rentável a venda da colunável mediocridade. Quanto mais colunas, mais vendados seus compradores.

Por que você deixou o Orkut?



Perguntaram-me:

- Por que você deixou o Orkut?

- Simples!... - respondi.

- No pouco tempo em que fiz uso do Orkut, o que mais encontrei em suas comunidades foram um grande número de mentes embotadas discursando o "blablabês" e outras poucas, muito mais aguçadas e especulativas, porém, não livres.

Divina Incongruência

A influência psicológica da crença
Diz o dito popular:
Cabeça vazia, oficina do diabo.
Não creio.
Para mim,
Só em cabeça vazia, Deus oficia.

Nelson Jonas

11 março 2008

Conversa pelo MSN

- Namaste!

- Bom dia!

- Bom dia, espero que não se importe de eu ter lhe adicionado.

- Não me importo, desde que eu possa saber quem você é e quais os motivos que a levaram a me adicionar em sua lista de contatos!

- Perdão, eu sou Francis, vivo em Belo Horizonte e lhe adicionei por que recebi um e-mail do cuidar do ser com o seu hotmail. Mas... Se tiver algum problema pode me excluir que entenderei.

- O que você busca, Francis?

- Busco por pessoas que tenham o mesmo interesse de crescer espiritualmente. Sou uma pessoa séria, não faço uso da NET para brincar ou me distrair.

- Muito bem, você disse uma palavra importante... Seriedade... Percebo que hoje em dia, essa é uma qualidade em extinção, principalmente aqui na internet. Pois bem, então, sugiro que você se cadastre em http://groups.msn.com/MensagensparaCUIDARDOSER

- Já sou cadastrada.

- Faça bom uso do site http://www.cuidardoser.com.br/

- Também já tenho o site na minha lista de favoritos. Você é o responsável pelo site?

- Sim. Se quiser, poderá também compartilhar um pouco das minhas meditações em http://historiasparacuidardoser.blogspot.com/

- Nossa!... Caiu como uma luva. Assim que tiver um tempinho, pode deixar com vou ler.

- Como já disse alguém um dia, a principal ocupação de uma pessoa séria é a transformação total da mente humana.

- Olha que estou tentando, mas confesso que não é nada fácil, não! Penso demais e isso não é nada bom! Estou tentando o silêncio, preciso ouvir minha alma...

- Creio que uma das primeiras etapas para um sério buscador, é a de abrir mão dessa dualidade de "bom e ruim"... Não julgar nada do que passa em seu interior, mas, tão somente, O B S E R V A R...

- Pois é!

- É o próprio pensamento que ao julgar cria conflitos.

- Meu primeiro contanto com esta nova realidade foi o livro: "As sete leis espirituais do sucesso" de Deppak Chopra.

- Conheço!

- Estou tentando vencer o meu ego, não julgar a mim e nem a ninguém.

- Mas será que existe essa dualidade "ego e você"?... Ou ambos são um só?

- Como assim?

- Percebo que é o pensamento que cria essa divisão entre "eu" e o "ego". Hoje, mais do que nunca tenho a percepção de que "aquele que observa" é também "a coisa observada". Quando coloco a palavra "ego" já estou julgando e me fragmentando em um "eu" que vê a ação de um "ego" que vive nesse "eu".

- Sim, isto faz sentido, me parece ser verdade.

- Seria possível, então, observar toda a nossa natureza sem fazer uso de palavras, rótulos ou preconceitos?

- Talvez sim.

- Talvez... Há quanto tempo você vem buscando por um melhor contato com o ser que lhe faz ser?

- Há dois anos, mas, neste dois anos tive várias recaídas.

- Posso saber o que você quer dizer por "recaídas"?

- Chamo de recaídas os períodos em que não consigo colocar em prática tudo aquilo que pretendo para a minha vida... Esses períodos em que me entrego ao isolamento, feito animal ferido... Esses dias em que nem consigo acordar para a vida.

- Penso que um homem sério não esquenta com suas recaídas... Ele não se culpa pela queda, trata apenas de estudar o movimento que deu início ao deslize... Isso que você fala seria depressão?

- Talvez sim.

- Eu costumo dizer em meus textos que esses períodos são as maiores bênçãos de um ser humano.

- Talvez eu esteja deprimida.

- Dá muito trabalho potencializar nossa humanidade... Penso que a depressão é uma grande benção quando sabemos dar as boas vindas a ela... É como um grito da nossa inteligência mais profunda que nos chama a atenção de que estamos nos afastando de nosso próprio caminho para dar ouvidos as exigências descabidas de terceiros... Isso é muito claro para mim.

- Ontem eu dizia a um amigo, que muitas vezes chego a ter muito medo de mim mesma.

- Por que você diz ter medo de você?

- Não sei se consigo explicar. O problema é que às vezes vejo coisas que as outras pessoas parecem não ver; coisas simples, mas que produzem grande efeito em mim. Sinto que preciso urgentemente crescer espiritualmente.

- Se você quer crescer espiritualmente (se é que esse tal "espírito" cresce)... Penso que um grande exercício está na observação do medo que somos, observando sem qualquer espécie de julgamento, tudo o que se passa em nosso interior, em nossa mente, em nosso corpo. Observar... Tão somente observar... Durante estes anos tenho percebido cada vez com mais clareza que as nossas emoções e pensamentos não suportam a ação da observação. Essa observação não dá espaço para a manifestação das nossas reações fortemente arraigadas em nosso ser.

- Que são essas reações arraigadas?

- Você pode chamar de condicionamentos... Cada um de nós sabe as RE+AÇÕES, ou seja, ações que vem do próprio passado (RE) e que quase sempre, por não estarmos atentos, acabamos fazendo-as de forma inconsciente.

- Exemplo?

- Um exemplo bobo... Não querer sair da cama quando acordamos meio down, ou então, em qualquer sinal de dor, correr para um calmante ou qualquer outro tipo de alterador da mente (e olha que são muitos os socialmente aceitos...), ao invés de sentar e perguntar ao mal estar, o que é que ele quer nos mostrar... Ver o que é necessário modificar, o que é necessário abrir mão. Tenho percebido que grande parte do sofrimento humano está alicerçado em alguma forma de apego e, quase sempre, esse apego é uma forma de reação.

- É bem isso o que eu busco, mas, isso ainda me faz sofrer demais. Ainda estou presa... Ainda tenho aquela necessidade de ser aceita.

- Sei muito bem, por experiência pessoal, que não é nada fácil abrir mão de nossos apegos. Quando o fazemos, quando abrimos mão de algo que nos é de profunda importância psicológica, bate um profundo vazio repleto de emoções torturantes. A medicina chama isso de "Síndrome de Abstinência".

- Tem mais: tenho uma filha de seis anos e agora sinto que meu mundo gira em torno dela. Por vezes sinto que a uso para fugir da minha realidade.

- Então, por que não olhar carinhosamente, da mesma forma como faz com sua filha, para essa sua necessidade de ser aceita? Por que não começar olhando carinhosamente para essa sua necessidade fugir de si mesma?... Só é preciso olhar...

- Tenho medo das mudanças que já sei serem necessárias...

- Tenho presenciado que quando olhamos de mente aberta, através desse olhar, o falso acaba se revelando. Na própria observação inicia-se as mudanças... Como nas palavras de Albert Einstein, "A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao seu tamanho original". Olhar para as necessidades de mudanças, e para os medos ilusórios que a mente cria diante delas... Tenho um grande amigo que sempre me diz que a mente se chama mente porque mente constantemente... Creio ser preciso olhar para os medos, para as mentiras da mente (mente+ira)... Com certeza, você já deve ter vivido situações de medo que, após o acontecimento, percebe que nenhum dos medos anteriores tornaram-se realidade, não é verdade?

- Sim, sem dúvida, várias e várias vezes.

- Gosto muito de uma frase de um pensador: "fardos pessoais não nos devem retardar os passos nem fazer-nos tropeçar. Permitamos que a Luz da observação nos penetre o coração para refletir-se no mundo". Se é crescimento espiritual que você busca, saiba que a dor da observação de nossos medos é a pedra de toque de todo crescimento espiritual. Se quiser crescer, madurar, tornar-se um individuo, ou seja, alguém não influenciavel, o ser humano precisa se abrir para os próprios medos. Essa foi uma das minhas maiores descobertas, perceber que os medos são fantasmas, que nada tem de realidade.

- Sabe, eu sempre procurei achar uma solução para tudo, mas, tenho aprendido que nem tudo precisa ser "solucionado", que existem coisas que mesmo que naquele momento pareçam ruins, são necessárias. Somente mais na frente é que podemos compreender a necessidade de cada acontecimento. Estou aprendendo a fazer parte da vida e não mais tentar conduzi-la.

- Acho essa idéia da necessidade de "tempo psicológico" para a compreensão, um tanto perigosa; penso que nos causa sofrimentos desnecessários.

- Vejo que na maioria das vezes sofro por coisas que realmente nem existem. Uma vez um amigo que é budista me disse algo muito interessante: às vezes a mesma coisa que nos dá felicidade pode nos trazer sofrimento e por isto nossa felicidade não pode estar ligada a algo externo a nós, ela deve ser um estado de espírito.

- Me permite?

- Sim, pode dizer.

- Respeitando seu amigo, não creio haver realidade nessa frase, "às vezes a mesma coisa que nos dá felicidade pode nos trazer sofrimento"...

- Mesmo? Por que?

- Para mim, é impossível os dois coexistirem. Felicidade nunca será o avesso de algo.

- Exemplifique.

- Peguemos a palavra "sofrimento"... Não fomos incentivados a olhar para as palavras, estudar sua etimologia... Nos afastaram dos dicionários, chamando-os de "pai dos burros"... Mas, voltemos para a palavra "sofrimento"... SOFRER+MENTE...

- Isto mesmo.

- O sofrimento é sempre uma criação mental, que nada tem haver com a realidade pois, apesar de sentimos seus sintomas no presente momento, suas imagens estão sempre num futuro imaginário ou nas recordações do passado, quase sempre com o medo de suas repetições ou não.

- Seu raciocínio é lógico, esta dizendo em outras palavras aquilo que meu amigo disse para mim.

- Onde há sofrimento, só pode haver sofrimento e, onde há felicidade só pode haver felicidade. E tem mais, para mim, sinto que felicidade é a ausência de sofrimento, ou seja, ausência das masturbações mentais. Nossa mente é condicionada, vive impondo condições para sermos felizes... Se eu for aceito serei feliz, se eu tiver alguém serei feliz, se eu deixar alguém serei feliz e assim sucessivamente. O pior de tudo é que quando conseguimos o que a mente pede, também nos sentimos frustrados. Então, a mente reinicia seu ciclo compulsivo, criando uma nova condição, que nada tem de nova e ai ficamos rodando que nem cachorro atrás do rabo: faça, não faça... Se fez, por que fez?... Por que não fez direito?... Faça novamente... E por ai vai. Faz sentido?

- Sim, claro.

- Então, para mim, o grande lance é observar os monólogos acelerados da mente. Só assim percebo não ocorrer a identificação, ou seja, ficar idêntico ao que a mente nos sugere.

- Poxa!

- Não sei se consegui ser claro em meu raciocínio.

- Há quanto tempo se dedica a isto?

- Meu processo de busca começou aos meus 22 anos no que chamo de a minha grande depressão iniciática. No entanto, este processo de observação da natureza exata, da fonte original de todos os meus conflitos, apenas há alguns poucos anos atrás.

- Qual sua idade?

- Tenho 44 anos. Hoje, percebo que caminhei até aqui para descobrir que um poder superior aos meus sofrimentos causados pela identificação com a mente mentirosa, não se encontra num céu distante, num sistema de crença ou em outra pessoa, por mais inteligente que seja, mas sim, em mim mesmo, através do processo de observação amorosa de tudo aquilo que passa no ser que sou. Olhar sem negar ou aceitar nadinha... Apenas olhar... Tenho visto que nesse olhar sem qualquer tipo de escolha é que aprendo a ver por mim mesmo o que é falso. E, ao ver o falso, fico cada vez mais próximo do que é verdadeiro.

- Poxa!

- Quem sabe, de falso em falso, a qualquer momento, possa ocorrer aquele encontro com a verdade, realidade, deus, ou seja, lá o nome que você queira dar para essa coisa que palavra alguma consegue alcançar. Observar toda falsidade que recebi da família, escola, sociedade e que aceitei como verdades imutáveis... Ver por mim mesmo, sem o medo de ver "errado", pois, se estiver de mente aberta, tão logo verei que vi de forma falsa, então, o que era erro passa a ser acerto e isso dá uma liberdade incrível.

- Você educa seus filhos neste sistema?

- Sou bem casado, mas não tenho filhos.

- E a foto do neném que você segura em seu colo na foto do seu Blog?

- É a foto da filhinha da minha enteada. Só estou educando o filho que sou, na verdade, estou me pegando no colo e não deixando mais que tanto a família, como a sociedade me faça engolir o falso como verdadeiro.

- Você trabalha apenas com isto?

- Isso não tem nada haver com a minha profissão, isto é apenas uma nova maneira de viver. Nessa observação, venho aprendendo que muito dos meus medos são ecos das frases das pessoas significativas da minha vida.

- E no meio em que vive, como é a reação das pessoas?

- Sabe, acho bom rirmos um pouquinho... Costumo brincar que sou o inventor de um pequeno aparelhinho de bolso, o qual uso quando essas pessoas disparam suas verborréias...

- Que aparelhinho é esse?

- É o "fodometro"... Eu o aperto e... O que elas pensam a meu respeito!

- Essa é boa – risos.

- Percebo que uma das maiores fontes de sofrimento e imaturidade é se permitir aceitar as contribuições psicológicas de fora, por nós nunca solicitadas. Essa imensa coleção de "você tem que, você deve, porque você não faz assim ou assado, porque você não é igual a fulano de tal..." Percebo que essas doações psicológicas vindas de fora funcionam como se fossem softers mentais que destroem nosso firewall interior, abrindo espaço para a entrada de uma grande variedade de vírus sociais que podem deletar de vez a nossa originalidade e espontaneidade. Percebo que isso não ocorreu comigo, graças ao impacto das depressões que tive. É por isso que as qualifico como sendo uma verdadeira benção.

- Sabe, parece mesmo que vivo numa matrix, são tantas normas...

- Parece? Penso que a pior matrix é se permitir um coração fechado por causa da aceitação dos sistemas de crenças sociais. Tenho um estudo aprofundado sobre a matrix no site da cuidar do ser, quem sabe, você já o tenha visto: http://www.cuidardoser.com.br/matrix-um-estudo-arquetipico-menu.html

- Você conhece a música "metamorfose ambulante"?

- Claro!

- Pois bem, assim é que me sinto.

- Ótimo. Como diz o Gabriel Pensador, o grande lance é ser sempre você mesmo, mas nunca ser sempre o mesmo. Olha, bem que eu gostaria de poder continuar essa conversa sobre a tão negligenciada arte de cuidar do ser que somos, mas, preciso abrir o meu comércio. Acho que nossa conversa foi muito nutritiva, pelo menos para mim. Quem sabe, tenhamos falado muitas abobrinhas, mas, como abobrinha também tem vitamina, fiquemos com o melhor e tratemos de refogá-la com nosso próprio tempero.

- Entrarei mais vezes no seu site, só que o farei em casa pois aqui na empresa, existe um bloqueador.

- Use e abuse! E experimente usar o "bloqueador da dor causada pelos movimentos da mente" através da observação da mesma. E não estranhe se inicialmente, sentir uma forte resistência da sua mente... É normal, faz parte do processo inicial de descondicionamento mental, afinal de contas, nossa mente mentirosa não quer deixar de nos controlar e ser tão somente uma servidora de confiança.

- Posso te fazer só mais uma pergunta?

- Diga!

- O que te fez seguir este caminho?

- Já disse: a depressão. Ela amorosamente me disse: ou você faz o que te peço ou eu te mato!

- O que te levou a ter depressão?

- Vixi... Essa é uma longa história... Se você quebrasse uma perna, ficaria preocupada em saber sobre a vida do cara que largou a casca de banana que a fez cair e quebrar a perna, ou trataria o mais rápido possível de se recuperar da perna quebrada?

- Creio que a segunda opção!

- Muito bem, pela sua resposta, confirmou que é uma pessoa séria. Não interessa a vida do mensageiro, o lance é a mensagem. Cuide bem das suas feridas, mesmo que no momento ainda precise fazer uso de algumas muletas psicológicas. Se o fizer com seriedade, logo ficará livre delas e poderá caminhar como um novo ente humano por esse mundo de deus.

- Minhas feridas estão abertas faz um ano e meio.

- Tenho certeza que a grande vida as permitiu para que você possa maturar com elas e nunca para lhe desintegrar. Tenho absoluta certeza disso. Bem, agora preciso desligar, pois já estou atrasado. Cuide-se bem! Um forte abraço fraterno e, não tenha medo de ir de encontro com quem você realmente é: a vida precisa urgentemente de pessoas dispostas a realizar sua humanidade plena.

- Muito obrigada pela conversa.

- paz e bem!

- Namaste!



10 março 2008

A neurose de ser boazinha

Mais uma semana se apresenta com a mesma temperatura abafada e o barulho infernal dos motores no trânsito. Alguns metros, bem em frente a calçada engordurada da casa de esfihas, três pombos bicam os detritos caídos dos sacos de lixo produzidos no final de semana e o som estridente da serralheria atrapalha o raciocínio.

Dona Laura, costureira aposentada, com um saco plástico cheio de caixas de remédios, fecha o portão da casa da vizinha e visivelmente atrapalhada, com voz embargada me cumprimenta:

- Bom dia Sr. JR!

- Bom dia dona Laura! Por favor, deixe o "Sr" de lado! Como vai a senhora e sua netinha?

- Com a pequena Dulce tudo bem! Eu é que não ando lá essas coisas. Ainda mais agora, depois de sair da casa da dona Odete. Ela me cansa a cabeça que só e, o pior de tudo é que não consigo me livrar de ter que passar por aqui umas três ou quatro vezes por semana. Ela sabe que já estou aposentada há nove anos, mesmo assim, vive me suplicando para continuar costurando para ela... É sempre a mesma ladainha, uma choradeira só! Já jurei de pés juntos nunca mais trabalhar para ela, mas não tem jeito... De tanto insistir, acaba me vencendo pelo cansaço. Ela sempre dispara a falar dos mesmos problemas dela, dos filhos e da malharia; fala com tanta propriedade que acabo ficando com dó da coitadinha e me contrariando. Ela chora tanto que acabo sempre dizendo sim, mesmo quando quero dizer não. E quer saber? Quando digo não, acabo ficando mal comigo mesma e no dia seguinte, lá estou eu batendo na porta da casa dela.

- Desculpe-me, mas, não creio que ela tenha todo esse poder. Ninguém pode fazer um cavalo beber água se ele não quer.

- Pior é que eu já sei disso. Você tem razão, sou eu que dou esse poder para ela. Minha filha vive me dizendo o mesmo que você. Até o meu médico já me disse que os meus problemas físicos resultam de eu viver me derramando em favor dos outros. Ele vive me dizendo que devo largar tudo e cuidar um pouco mais de mim mesma.

- E por que a senhora não dá ouvidos a ele?

- Parece fácil, mas, ela chora tanto nos meus ouvidos que eu acabo não conseguindo sustentar aquilo que sinto.

- Desculpe-me a pergunta, se a senhora não quiser me responder, fique tranqüila. Entenderei.

- Diga.

- Quantos anos a senhora têm?

- Não me importo de dizer a minha idade... Acabei de completar 61 anos agora no inicio de março.

- Olha só: mais um de peixes! Também acabei de fazer 44 anos no dia 4 de março. Meus parabéns!

- Para você também.

- E a senhora, com toda essa vivência ainda não aprendeu a dizer "não"?

- Aprender, aprendi, o problema está em sustentá-lo... Tenho o coração muito mole. Basta o outro começar a chorar que eu volto atrás e dou um jeitinho de ajudá-lo em suas necessidades.

- Sabia que essa tal moleza de coração tem um nome?

- Qual? – respondeu-me sorrindo.

- Codependência: a neurose de ser boazinha. Já perdi uma amiga por causa dessa doença: seu corpo não agüentou. Aprendi nestes meus 44 anos que muitas vezes, a melhor maneira de você ajudar uma pessoa é não ajudando.

- Bem que eu gostaria de pensar assim... – disse-me ela, apontando para o saco plástico repleto de caixinhas de remédios. – Estou indo para casa separar os remédios dela em saquinhos... É remédio para pressão, para osteoporose, para o coração, para gota... Se deixar por conta dela, faz uma mistureba danada e acaba tomando tudo errado.

- Mas e a família dela? Onde fica nisso tudo?

- Vixi!... Se deixar por conta deles, rapidinho ela bate as botas. Às vezes chego a pensar que é isso mesmo que eles querem. Eu mesma que não sou da família, por vezes, chego a ter esses tipos de pensamentos quando fico com raiva dela por não conseguir lhe dizer não. Mas, coitada, alguém precisa ajudá-la. Na realidade, acho que nós duas somos muito parecidas, uma vez que ela com quase 70 anos de idade, ainda fica para cima e para baixo, feito uma louca por causa dos problemas dos filhos já marmanjos de barba na cara.

- Se a senhora tem consciência disso, por que se permite tamanho desgaste desnecessário?

- Já falei: tenho o coração muito mole!

- Então, se a senhora me permite, com todo respeito: sofra!... E não reclame para ninguém!... Tem mais: a senhora nunca vai ver a palavra "codependência" num laudo psiquiátrico ou num atestado de óbito. No entanto, tenho absoluta certeza de que em muitos casos a raiz de todo problema está nessa forma codependente de pensar e agir.

- Pior é que você está coberto de razão. Outro dia mesmo, depois do almoço, vi o Gasparetto falando sobre isso em seu programa.

- A senhora me permite outra pergunta?

- Sim, claro!

- A senhora acha que estas pessoas lhe dariam assistência caso a senhora viesse a ter algum problema de saúde como um colapso nervoso? Acredita que lhe visitariam todas as semanas? Que lhe levariam bolachas e cigarros ou mesmo se certificariam de que a senhora estivesse tomando os seus remédios com precisão?

- Hum... Pensando bem, acho que não.

- Creio que lhe visitariam apenas uma vez, para se certificarem da sua real situação. Já vi isso acontecer várias e várias vezes. Já tive exemplos disso na família. Chamo esse tipo de pessoa de "umbigóide"...

- "Umbigóide?"

- Sim, umbigóides! São pessoas que só conseguem olhar para o próprio umbigo. Não enxergam nada além dele. São verdadeiras sanguessugas emocionais. É preciso muita cautela com esse tipo de pessoas, uma vez que são especialistas em transferir a solução de seus próprios problemas para os cardíacos molóides de plantão.

- Meu problema é que sei de tudo isso, mas, não consigo agir de outra maneira... Quando me dou conta, já abracei o problema do outro.

- Isso é que é insanidade, dona Laura: fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes!... Sabe, existe um lema de vida muito interessante: "viva e deixe viver".

- Já ouvi falar!

- Quando se trata de um umbigóide, sou um tanto radical e o uso de outra maneira: "viva e deixe morrer". Penso que a existência já nos rouba uma grande soma de energia e se permitir ter a mesma sugada por um umbigóide, demonstra grande falta de seriedade e auto-estima. A senhora não acha?

- Acho que você está coberto de razão. Pena que ainda não consigo. Quem sabe um dia!

- Um dia... Sei!... Por que deixar para amanhã o que só se pode e deve ser feito hoje?

Ela balançou a cabeça, deu uma risadinha e perguntando-me, tratou de mudar de assunto:

- E a senhora sua mãe? Como vai?

- Com certeza, se protegendo dos ataques dos umbigóides que a cercam em sua família. Ficou bastante escolada depois de acompanhar o exemplo de sua própria irmã, que definha aos poucos, com o mal de Alzheimer, hoje dependente das migalhas de atenção de seus familiares (se é que tais pessoas que a cercam sejam dignas de tal adjetivo). Pobre mulher: em nome de sustentar um casamento de fachada e a disfunção de seus filhos, hoje, só Deus sabe como ainda continua existindo. Quem sabe, se tivesse tido a coragem de se desplugar dos tentáculos daqueles umbigóides e olhado com um pouquinho de atenção para as suas reais necessidades, sua sina fosse um tanto diferente.

- Diga para a sua mãe que lhe deixei um grande abraço. Qualquer dia desses, quando estiver com um pouquinho mais de tempo, passo aqui para ver ela algumas peças para mim. Agora me deixe ir, pois ainda tenho que correr com o almoço da minha netinha e voltar mais tarde com os remédios da dona Odete. Olha só: o que falamos aqui é para morrer aqui. Vê se não comenta nada do que falamos com ela. Se ela souber um terço do que agora conversamos, com certeza deixaria de me procurar.

- Ok, dona Laura, ok! Vá pela sombra, o sol está muito forte! Um beijo na pequena Dulce!

07 março 2008

TEMPOS MODERNOS

Sexta-feira, 18h06min. As nuvens são de um tom cinza escuro, o vento faz a pele arrepiar e a chuva parece não demorar a chegar. O trânsito é absurdo, bem como o vazio e a inquietude interna.

Todos correm, sendo que a grande maioria, pela expressão de seus olhares, com certeza, sem ao menos saber por que e para que. Eles parecem não perceber que vivem dentro de um maquiavélico sistema de regime de liberdade assistida... Todos correm para as celas de seus condomínios, geralmente atrasados...

Com certeza, os tempos mudaram; já não se faz mais uso das pesadas correntes presas ao pescoço: as mesmas foram trocadas pelo crachá, o palmtop, o celular e o aparelho de mp3 aos ouvidos, para não dar ouvidos ao ininterrupto e insano movimento do pensar. As cartas de alforria só nos deram a liberdade de escolha dos modelos, cores e quantidades de prestações geradas pelas aquisições dos produtos dos senhores do engenho (e como são engenhosos estes senhores), vendidos nas senzalas chamadas shopping centers.

Sem o menor sinal de depressão, percebo que nada do que está aí me atrai. Já não faz mais sentido buscar por distrações ou anestésicos de happy hour, muito menos optar por aquelas situações que depois de feitas, torna-se impossível de se conviver com elas. Sinto a necessidade de algo que as palavras desconhecem, mas, que no mais fundo do meu ser, sinto saber existir.

Só por agora é na escrita que encontro meu alento, se bem que em certos momentos, até mesmo as palavras me parecem sem sentido.

Nestes chamados tempos modernos, sinto que mais do que nunca se faz necessário momentos de silêncio e recolhimento.

Maturidade

A maturidade está na capacidade de sentir a dor que se é; compreender sua mensagem, sem a ela acrescentar a carga de sofrimentos compulsivos. Sem a compreensão de sua mensagem, torna-se impossível a manifestação de uma existência qualitativa.

06 março 2008

Sentimentos no Morro do Maluf

Que maior impotência
Pode experimentar um homem
Do que querer essa Presença
Da qual nem pode dizer o nome?

Que maior tristeza
Pode sentir alguém
Ao ver que tanta beleza
Dele se encontra além?

Que maior anseio
Pode sentir um ser
Do que o de ser um com o seio
Pelo qual se fez ser?

A fúria da beleza


Estupidamente bela
a beleza dessa “maria-sem-vergonha”
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda,
a beleza, quando é linda demais,
dá uma imagem feita só de sensações,
de modo que, apesar de não se ter a consciência desse todo,
naquele instante não nos falta nada.
É um pá, um tapa, um golpe,
um bote que nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda a beleza doeu profundo no peito essa manhã.
Doeu tanto que eu dei de chorar.
Por causa de uma flor comum e misteriosa do caminho.
Uma delicada flor ordinária,
brotada da trivialidade do mato,
nascida do varejo da natureza,
me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumoe me pôs a mesa...
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda,
quase tristeza.
Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal.
É uma dobradura do real, uma dimensão dele, uma mágica à queima-roupa
sem truque nenhum. E é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força que eu dei de soluçar!
O esplendor do que vi era pancada, era baque e era bonito demais!
Penso, às vezes, que vivo pra esse momento
indefinível, sagrado, material, cósmico,
quase molecular.
Posto que é mistério,
descrevê-lo exato perambula ermo dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz
que nasce o acontecimento poético.
Poesia é quando a iluminação zureta,
bela e furiosa desse espantose transforma em palavra!
A florzinha distraída,
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo,
como aquele ápice do prazer,
que a gente pensa que vai até morrer!
Como aquele máximo indivisível,
que de tão bom é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede páraquerendo e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilonão se agüenta mais...
sabe como é?
Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!
Elisa Lucinda

03 março 2008

Caricaturas da criação

São os umbigóides
Vitímas de uma era
Onde impera
Uma moda sem ética
Que a todos adultera
Transformando-os em meras
Caricaturas da criação.
Bem dizia um grande amigo:
É tudo imagem;
Ninguém revela o negativo.

Estação Saúde

Várias tribos
Vários mundos
Submundos
Imundos.

Paradoxos

Quando eu dormia,
Não conseguia dormir.
Agora, desperto,
Durmo.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!